Um reajuste menor, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, interromperia a política de valorização do piso nacional
Ricardo Leopoldo, da Agência Estado
SÃO PAULO - O diretor-técnico do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese),
Clemente Ganz Lúcio, afirmou, de Montevidéu, à Agência Estado, ser
contrário à decisão do governo de elevar o salário mínimo para R$ 540,00
em janeiro, como manifestou ontem (29) o ministro do Trabalho e
Emprego, Carlos Lupi. O reajuste, segundo o Dieese, interrompe a
política de valorização do piso nacional, pois representaria uma queda
real de 0,55% ao levar em consideração a variação do indexador oficial, o
Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). "Seria mais adequado um
aumento real ao redor de 4%, que significaria levar o mínimo para um
patamar entre R$ 550 a R$ 560 no ano que vem", comentou.
De acordo com a nota técnica do Dieese, "Política de Valorização do
Salário Mínimo: considerações sobre o valor a vigorar a partir de
primeiro de janeiro de 2011", divulgada hoje, um aumento de R$ 1 do
salário mínimo representa um impacto de R$ 249,3 milhões na folha de
benefícios da Previdência Social. A instituição de pesquisa estima que a
elevação do mínimo de R$ 510 para R$ 540 representará uma despesa
adicional de R$ 7,5 bilhões.
Segundo Lúcio, é "compreensível" a posição do governo, segundo a qual
a presidente eleita Dilma Rousseff pretende melhorar a gestão fiscal e
sinalizar para os agentes econômicos que a sua administração será
austera na área fiscal e vai conseguir economizar 3,1% do Produto
Interno Bruto (PIB) do Orçamento em 2011, o que é a meta de superávit
primário. A nova administração federal quer harmonizar as políticas
fiscal e monetária a fim de reduzir ao máximo o ciclo de alta de juros
em 2011, que poderá ser iniciado no dia 19 de janeiro pelo Comitê de
Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
O diretor-técnico do Dieese reconheceu que uma variação do mínimo de
R$ 540 para a marca que defende, entre R$ 550 e R$ 560, representaria um
gasto adicional às contas da Previdência Social entre R$ 2,5 bilhões e
R$ 5 bilhões. "Esse é um valor expressivo, mas é preciso lembrar que,
quando o Banco Central eleva os juros numa canetada, essa despesa é
quatro vezes maior", comentou.
Dívida pública - De acordo com o economista da consultoria Tendências
André Sacconato, o governo deve gastar R$ 188 bilhões com juros da
dívida pública federal neste ano, quando a Selic média no ano será de
10%. Segundo ele, como a taxa deve subir no próximo ano e atingir a
média de 12%, tais despesas devem atingir R$ 225 bilhões em 2011.
"Talvez, o governo esteja sendo prudente demais ao não conceder
aumento real do salário mínimo no próximo ano, que se tornou um dos
principais instrumentos que viabilizaram a melhoria da distribuição de
renda no País no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva",
comentou o diretor-técnico do Dieese. De acordo com a nota técnica
divulgada pela instituição, com a alta do mínimo para R$ 540, o
vencimento nacional deve registrar um aumento real de 52,83% desde 2003.
Segundo Lúcio, seria melhor que o Poder Executivo adotasse uma agenda
conjunta de apreciação do mínimo ao redor de 4% com estímulo a
investimentos, sobretudo do setor privado. "Seria fundamental, por
exemplo, implementar a reforma tributária, desonerar as exportações e
também a aplicação de recursos pelas empresas no aumento da Formação
Bruta de Capital Fixo,", destacou.
Para Lúcio, também seria fundamental que o governo se dedicasse com
grande vigor à desindexação da economia. De acordo com o Banco Central,
29,5% do IPCA são compostos por preços administrados, que são
insensíveis às condições de oferta e de demanda porque são estabelecidos
por contratos ou por órgãos públicos. Entre tais preços, fazem parte
tarifas de serviços telefônicos, eletricidade, planos de saúde e
derivados de petróleo, como gasolina, gás de cozinha e óleo para
motores.
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