O recado mais duro foi também a frase mais curta pronunciada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), num discurso de 33 minutos na tarde de ontem:
– A crise é do Senado, não é minha.
Ao responsabilizar todos os senadores pela crise administrativa e política, Sarney conquistou o apoio dos líderes, inclusive os da oposição, para a ideia de que vai continuar a “corrigir erros” e a “tomar providências sem soltar fogos de artifícios”. Para comprometer os senadores, ele lembrou, citando alguns dos colegas da Mesa Diretora, como Heráclito Fortes (DEM-PI), 1º-secretário, e Marconi Perillo (PSDB-GO), vice-presidente, ambos da oposição, que nunca toma “providências pessoais” e que gosta de discutir e tomar decisões “coletivas”.
Apesar de ter pelo menos meia dúzia de parentes e aliados políticos nomeados por meio de atos secretos, o presidente Sarney disse no discurso que não aceita ser julgado por causa da nomeação de um neto ou de uma sobrinha. Ao encerrar o discurso, ele classificou como “uma injustiça” julgar um homem como ele, “com tantos anos de vida pública, com a correção que de vida austera, de família bem composta”. Descolando-se dos atos administrativos que desmoralizam o Senado, Sarney sentenciou:
– Eu não vim para administrar, para saber da despensa do Senado, o que havia lá. Eu vim, eu sou o presidente do Senado para exercer uma função política – disse.
A estrutura do discurso foi definida logo cedo, em reunião reservada na casa de Sarney, da qual participaram os líderes do PMDB e do DEM. Na véspera, o presidente da Casa cogitara apenas divulgar uma nota oficial. Ao final dos 40 minutos de conversa com o grupo mais próximo, no entanto, não havia dúvida de que o melhor para tentar inverter a curva ascendente da crise era um discurso da tribuna, em que ele começasse pontuando todas as medidas e providências tomadas desde o início da crise.
Quem participou da conversa diz que o presidente estava “tenso, preocupado e indignado” por conta dos casos pessoais que teriam sido “pinçados” dos relatórios sobre os atos secretos. Também estava queixoso por se julgar vítima de uma guerra interna em que velhos funcionários se digladiam contra o grupo mais novo, dos concursados, e também contra os comissionados, que se multiplicaram desde 2003 e hoje são maioria.
O deputado Sarney Filho (PV-MA) comemorou os apartes “amenos” dos senadores, sem vestígio de hostilidade ao pai senador. Ao mesmo tempo, o amigo e líder do DEM, José Agripino (RN), avaliava que a fala de Sarney produziu resultado duplo:
– Desarmou a crise e neutralizou o movimento pela renúncia (de Sarney).
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