PORTO PRÍNCIPE - Dezenas de milhares de crianças ficaram órfãs depois do terremoto em Porto Príncipe – tantas que os especialistas ainda não se arriscaram a falar em números. Mas embora imagens de meninos feridos e abandonados tenham levado alguns países – entre eles França, Estados Unidos e Espanha – a acelerarem adoções que já estavam em andamento, o governo do Haiti decidiu sexta-feira suspender novos processos de adoção internacional, temendo um aumento no índice de tráfico de crianças.
Sexta-feira, Jean-Claude Legrand, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Genebra chegou a anunciar que cerca de 15 crianças haviam sido sequestradas em hospitais do Haiti nos últimos dias e possivelmente vendidas na República Dominicana. Horas depois, a Unicef voltou atrás e declarou que só podia confirmar relatos de crianças desaparecidas. O caso é investigado
A suspensão de novos processos de adoção foi anunciada pelo secretário de Estado para Ajuda Alimentar e Água do Haiti, Michel Chancy. Apenas processos que já estavam em andamento em Porto Príncipe seguirão adiante.
– Estamos conscientes da nossa incapacidade, neste momento, de fazer uma avaliação correta de cada caso – explicou Chancy. – Há um número muito grande de crianças cujos pais não sabemos onde estão (...) Há ainda o perigo de tráfico de crianças, e por isso tomamos a medida administrativa de paralisar o processo para novas adoções.
As entidades humanitárias Save the Children, Visão Mundial e Cruz Vermelha Britânica defendem que as autoridades do Haiti precisam se focar na tentativa de encontrar os familiares dessas crianças antes de entregá-las a estrangeiros para a adoção.
“Qualquer adoção precipitada representa uma ruptura permanente nas famílias, provocando danos a longo prazo nas já vulneráveis crianças, e poderia desviar a atenção dos esforços de ajuda no Haiti”, informou um comunicado conjunto das agências.
Crimes
O Unicef também advertiu que, na situação atual de Porto Príncipe, há riscos enormes para as crianças que não estão acompanhadas por familiares ou que não foram localizadas por alguma das organizações humanitárias que trabalham no território. Segundo a agência, as condições atuais no Haiti podem propiciar o tráfico infantil em razão da superlotação de hospitais e a perda de documentos.
Jean-Claude Legrand, assessor da Unicef em Genebra, alertou sexta-feira que redes de tráfico de crianças operando a partir de Santo Domingo na vizinha Republica Dominicana já existiam antes do terremoto no Haiti, e eram bastante ativas. Crianças eram sequestradas e entregues ao mercado internacional de adoções.
– Sempre quando há uma catástrofe, as redes se aproveitam da vulnerabilidade do Estado e dos sistemas de controle – explicou Legrand.
Outro agravante é o fato de os orfanatos de Porto Príncipe terem se tornado alvo fácil para saqueadores em busca de comida, água e suprimentos médicos. Segundo a CNN, na noite de quarta-feira, o orfanato Maison de Limere, que abriga 50 crianças, foi invadido por 20 homens armados. Um orfanato vizinho com cerca de 135 crianças também foi saqueado diversas vezes nos últimos dias.
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