Ian Black, The Guardian
O anúncio de Ehud Olmert de que deixará a liderança do seu Partido Kadima não chega a surpreender, considerando os problemas causados pelas acusações de corrupção e pela queda vertiginosa de seus índices de aprovação. Sua saída do cenário político deixa não apenas incerteza quanto a seu possível sucessor, mas também sobre questões não resolvidas e extremamente delicadas a respeito dos graves problemas da guerra e da paz no Oriente Médio.
As conversações de Israel com os palestinos, atualmente em declínio, provavelmente farão pouca diferença. Na semana passada, Olmert disse ter a impressão de que não há chances de um acordo de paz antes do fim do ano, o prazo estabelecido pelo presidente dos EUA, George W. Bush.
A chanceler Tzipi Livni é a candidata com mais probabilidades de tomar uma atitude positiva nas negociações de paz com os palestinos. Rigorosa, trabalhadora persistente e de grande determinação, ela não esconde sua ambição de ser a primeira mulher depois de Golda Meir a ocupar a chefia de governo.
O principal adversário de Tzipi para a liderança do Kadima é Shaul Mofaz, ex- chefe do Estado-Maior, que recentemente esteve as manchetes de todo o mundo quando afirmou ser "inevitável" que Israel ataque as instalações nucleares do Irã. Os líderes israelenses deixaram claro que, embora apóiem a pressão diplomática e as sanções para impedir que o Irã obtenha a bomba, consideram a república islâmica uma ameaça "existencial". Quem suceder a Olmert constatará que o Irã é o maior problema da lista.
A saída de Olmert poderá significar incerteza para as conversações de paz em outra frente: a Síria. As negociações mediadas pela Turquia começaram este ano, depois que aviões israelenses bombardearam supostas instalações nucleares no norte do país. Mas toda e qualquer discussão terá de chegar às Colinas do Golan, ocupadas por Israel desde 1967. O governo sírio estimou ontem que a saída de Olmert pode afetar as negociações, mas "espera que não".
Tzipi provavelmente seguirá a política de Olmert. Mas Mofaz provavelmente prometerá jamais devolver o Golan à Síria, jamais aceitar a divisão de Jerusalém ou fazer qualquer compromisso territorial com os palestinos enquanto não derrotarem o "terrorismo". Com a provável realização de eleições no começo de 2009, uma das hipóteses é que a posição de linha dura de Mofaz agrade ao opositor Partido Likud, criando a possibilidade de o Kadima formar um governo de coalizão com Binyamin Netanyahu. Uma conseqüência provável da saída de Olmert é que ela apressará a volta de Netanyahu ao poder.
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