domingo, 20 de julho de 2008

Dercy é velada na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro











Aos 101 anos, comediante não resistiu a pneumonia; enterro será na cidade natal, Santa Maria Madalena.

Agência Estado

Comediante morreu neste sábado, aos 101 anos

Amigos, parentes e fãs da atriz e comediante Dercy Gonçalves acompanham neste domingo, 20, o velório da humorista no saguão da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, no centro da cidade. Dercy, que tinha 101 anos, morreu na tarde de sábado, vítima de pneumonia.
A primeira a chegar ao velório foi a atriz e ex-vedete Virgínia Lane, de 88 anos, a melhor amiga de Dercy. "Fiz questão de ser a primeira. Quero que ela saiba que eu fui a primeira a cumprimentá-la. Ela vai para um lugar onde daqui a pouco eu também vou estar. Éramos muito amigas. Lembro que ela me dizia: você vai longe com essas longas pernas", disse Virgínia.
O velório começou por volta das 10h30, com a chegada da única filha da atriz, Maria Dercimar Senra, que aviou que não gostaria que o clima fosse fúnebre, porque Dercy gostaria que sua morte fosse como uma festa. Entre as coroas de flores enviadas à família, há uma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Marisa Letícia. A presença do governador Sérgio Cabral é aguardada para esta tarde. O velório estará aberto ao público até as 18h.

Foto: Juan Guerra/AE

Dercy durante o Tal Show Dercy Gonçalves, no último dia 14 de julho, no Bar do Nelson, em SP
O corpo de Dercy deixará a Alerj por volta das 10h de amanhã, quando parte para Santa Maria Madalena, onde ela nasceu. Lá, será velado no Clube Montanhês. O enterro está previsto para o meio-dia de terça-feira, quando se comemora o dia da padroeira da cidade. Na hora do sepultamento, será tocado o samba que a Viradouro fez, em 1991, em homenagem à atriz. "Ela sempre disse que gostaria de morrer no dia da padroeira. Como morreu poucos dias antes, faremos o enterro neste dia", disse Nestor Lopes, presidente do Museu Dercy Gonçalves, na cidade.

Segundo nota divulgada pelo Hospital São Lucas, em Copacabana, Dercy chegou à unidade com sinais de "uma pneumonia comunitária grave", que, segundo os médicos, evoluiu rapidamente para um quadro de "sepse pulmonar e insuficiência respiratória".

O prefeito de Santa Maria Madalena, Clementino da Conceição, declarou luto oficial de uma semana na cidade. O governador Sérgio Cabral e o prefeito do Rio, Cesar Maia, decretaram luto oficial no Estado do Rio e na capital em homenagem à atriz. Cesar Maia também afirmou no sábado que vai buscar um logradouro ou equipamento público para batizar com o nome da atriz.

Foto: Luciana Prezia/AE

Dercy Gonçalves no sambódromo do Rio, durante o desfile das campeãs em 2005
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota de pesar pelo falecimento da humorista. Lula, que continua nesse domingo sua viagem oficial à Colômbia, afirmou que "a irreverência e a força da personalidade de Dercy Gonçalves vão deixar saudades em todos os brasileiros". O presidente disse que as atuações de Dercy , "foram um marco para o humorismo nacional". "A idade não importava, a verdade é que Dercy se manteve jovem durante toda a vida", acrescenta o presidente, que ressalta a coragem da atriz: "nascida numa pequena cidade no interior do Rio, ela teve a coragem de optar pela vida artística e enfrentar os preconceitos até alcançar o devido reconhecimento profissional. A sua filha, amigos e fãs, meus sinceros pêsames", conclui.

Na segunda-feira, Dercy fez um talk show no Bar do Nelson, da empresária Lilian Gonçalves, em uma das comemorações de seus 101 anos. No bar, que fica no centro de São Paulo, ela contou ter 102 anos, mas, como seus pais demoraram a registrá-la, ficou com 101. A atriz incluiu na idade o período em que estava na barriga de sua mãe e pediu um bolo de 103 anos, porque queria "entrar para o Guinness Book".

Polêmicas e palavrões
Dercy Gonçalves nasceu em Santa Maria Madalena (RJ), em 23 de junho de 1907. Na verdade, chamava-se Dolores Gonçalves Costa. Sua mãe, Margarida, abandonou muito cedo a família, tão logo soube da infidelidade do marido. Dercy foi criada pelo pai, um alfaiate nascido em Portugal e que tentou educá-la com toda a rigidez possível. Mas não tinha jeito: sob as barbas dele, não raro Dolores já prenunciava a Dercy que viríamos a conhecer, escandalizando a cidadezinha com atitudes pouco aconselháveis a uma menina de sua época. Em casa, costumava pintar o rosto e representar para as irmãs - motivo suficiente para que o pai lhe aplicasse um corretivo.

Foto: Fabio Motta/AE

Dercy em 2005, na comemoração dos cem anos da Avenida Rio Branco. Ela foi madrinha do aniversário

Dercy começou a trabalhar muito cedo: foi bilheteira de cinema e ganhava dinheiro apresentando-se para hóspedes do pequeno hotel de sua cidade. Estreou pra valer em 1929, no elenco de uma Companhia Maria Castro. Fazia teatro itinerante pelo interior do País. Com um certo Eugênio Pascoal, compunha uma dupla batizada de "Os Pascoalinos".

Claro que se especializou na comédia e no improviso. Mas começou a se destacar de verdade no auge do teatro de revista brasileiro, nos anos 1930 e 1940. Em 1943, na companhia do empresário Walter Pinto, estrelou "Rei Momo na Guerra", de autoria de Freire Júnior e Assis Valente.

A partir da década de 1960, Dercy inicia uma série de espetáculos em que atuava sozinha. Nesses espetáculos, em que seguia viajando pelo Brasil, começou a introduzir monólogos nos quais contava casos de sua vida, já naquele estilo irreverente e desprovido de papas na língua. Nessa época, já atuara em uma dezena de filmes, especialmente as chanchadas e as comédias nacionais. Ao longo da vida, viria a atuar em 24 produções.

Na televisão, chegou a ser a atriz mais bem paga da TV Excelsior, em 1963. Entre 1966 e 1969, apresentou, na Rede Globo, um programa de auditório de muito sucesso - "Dercy de Verdade", que acabou saindo do ar por por causa da censura imposta pela ditadura militar. Reapareceu no final dos anos 1980, no corpo de jurados de Sílvio Santos.

No SBT, voltou a comandar um programa próprio, que teve curtíssima duração. Já idosa, dizendo-se vítima de um golpe que teria desfalcado suas finanças, retomou a carreira, já octogenária.

Em 1985, recebeu do Ministério da Cultura o Troféu Mambembe, numa categoria criada especificamente para homenageá-la: Melhor Personagem de Teatro. Seis anos depois, sua carreira virou samba-enredo no carnaval carioca. "Bravíssimo - Dercy Gonçalves, o retrato de um povo" foi o tema do primeiro desfile da Unidos do Viradouro entre as escolas doGrupo Especial. Dercy mostrou-se uma senhora de peito: aboletada no último carro, atravessou a avenida com os seios à mostra.

A polêmica e o escracho eram as marca de Dercy Gonçalves. Dizia não acreditar em santo e ter como religião a natureza: "Deus é um apelido. Para mim, ele não existe". Apesar disso, gostava de enaltecer a religiosidade da filha, Dercimar, e também o seu caráter: "A f.d.p. nunca me roubou".

Alertando os desavisados de que um dia já tinha sido criança, Dercy tinha lá suas vaidades e por isso fez mais de 10 plásticas. Tinha também suas esquisitices, se é que podemos chamá-las assim: dizia não gostar de sexo nem de tomar banho. Sua biografia, Dercy de Cabo a Rabo (Editora Globo), foi escrita por Maria Adelaide Amaral.
Fonte: Estadão




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