segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Faixa de Gaza entra na terceira semana de guerra sem sinais de tréguas







Imagem de soldados israelitas na fronteira com a Faixa de Gaza
Olivier Hoslet, EPA "Israel está determinado a lidar com este assunto até haver uma conclusão positiva, para que não haja terrorismo em Gaza", reitera o gabinete de segurança do Governo israelita





Os apelos do Conselho de Segurança e do secretário-geral da ONU para um cessar-fogo na Faixa de Gaza continuam a colidir nas posições das autoridades israelitas e do Hamas. O enclave administrado pelo movimento radical palestiniano entrou este sábado na terceira semana de guerra com nova vaga de bombardeamentos da aviação israelita e vários disparos de rockets contra o Sul de Israel.









Uma semana depois de terem desencadeado a componente terrestre da operação “Arrancar pela Raiz”, as Forças de Defesa de Israel continuam a apertar o cerco à administração do Hamas na Faixa de Gaza.








A ofensiva israelita, que já causou as mortes de mais de 800 palestinianos, prossegue sem quartel, apesar dos esforços diplomáticos internacionais e de sucessivos apelos a uma trégua imediata.








Na última vaga de bombardeamentos aéreos e de artilharia, levada a efeito durante a madrugada de sábado, as forças israelitas atingiram mais de quatro dezenas de alvos no Norte e ao longo da linha costeira da Faixa de Gaza.








As chefias militares de Israel garantem que o conjunto de objectivos incluía apenas instalações para armazenamento de armas e túneis de contrabando. Contudo, responsáveis dos serviços de saúde da Faixa de Gaza afiançam que oito civis palestinianos morreram quando um tanque do exército israelita disparou um projéctil numa das ruas de Jabalya, no Norte do enclave.








Em simultâneo, os combatentes do Hamas dispararam vários rockets e granadas de morteiro contra o Sul de Israel, menos de 24 horas depois de terem atingido o território israelita com mais de 30 projécteis lançados a partir de Gaza.








Na cidade israelita de Ashkelon, mais dois civis sofreram ferimentos provocados pelo impacto dos rockets palestinianos. Pelo menos 13 israelitas - três civis e dez operacionais militares - morreram desde o início do conflito, a 27 de Dezembro.








Abbas lança apelo ao Hamas

O gabinete de segurança do Governo israelita decidiu prolongar a ofensiva contra o Hamas na sexta-feira, depois de o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter aprovado uma resolução em defesa de um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.








O documento, aprovado na noite de quinta-feira com a abstenção dos Estados Unidos, foi considerado “inaplicável” pelo Governo interino de Ehud Olmert, enquanto que o Hamas rejeitou o articulado do órgão da ONU por não ter sido auscultado.








Se o Executivo de Israel argumenta que os disparos continuados de rockets palestinianos esvaziam o apelo do Conselho de Segurança, o movimento radical palestiniano insiste na ideia de que qualquer tipo de trégua terá de obrigar o Estado hebraico a pôr termo ao bloqueio económico imposto à Faixa de Gaza.








O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, telefonou na sexta-feira ao primeiro-ministro israelita, a quem deixou uma nota do “desapontamento” da organização perante a reacção de Telavive à resolução do Conselho de Segurança.








Ao mesmo tempo, a Administração cessante de George W. Bush voltava a colocar-se ao lado do seu principal aliado no Médio Oriente, insistindo no apoio aos objectivos militares de Israel.








O porta-voz da Casa Branca Scott Stanzel sintetizou a posição de Washington: “A situação não vai melhorar enquanto o Hamas continuar a disparar rockets contra Israel”.








Com a guerra em pano de fundo, prosseguem os esforços diplomáticos mediados pelo Egipto. A partir do Cairo, o Presidente da Autoridade Palestiniana apelou este sábado aos seus adversários do Hamas para que aceitem “sem hesitações” o plano do Governo egípcio para um cessar-fogo em Gaza.

Imagem do Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, e do Presidente egípcio, Hosni Mubarak

Uma delegação do movimento radical palestiniano deslocou-se à capital egípcia para se pronunciar sobre a proposta de cessar-fogo apresentada pelo Presidente Hosni Mubarak, com o apoio do Presidente francês Nicolas Sarkozy.








“Esperemos que cheguem a um acordo sem hesitações. A situação não permite perder mais tempo”, afirmou Mahmud Abbas após um encontro com o Chefe de Estado egípcio.








De acordo com responsáveis israelitas, citados pela agência France Presse, o Egipto propôs a Israel o destacamento de uma força palestiniana, leal a Mahmud Abbas, para a linha de fronteira egípcia no Sul da Faixa de Gaza. O objectivo seria vedar o contrabando de armamento para o Hamas e demais organizações islamistas radicais.








A administração da Autoridade Palestiniana está confinada à Cisjordânia desde Junho de 2007, na sequência de um conflito fratricida entre o Hamas e as forças leais à Fatah, movimento do Presidente Abbas.








Situação humanitária degrada-se

As Nações Unidas retomaram este sábado a distribuição de ajuda humanitária às populações civis da Faixa de Gaza, depois de terem recebido garantias de segurança por parte do Governo israelita.








As organizações humanitárias a operar naquele território avisam que os 1,5 milhões de habitantes do enclave necessitam de aprovisionamentos urgentes de alimentos e material médico.








A agência da ONU responsável pela gestão da ajuda humanitária (UNRWA) suspendeu as suas operações na quinta-feira, depois de o condutor de um dos seus camiões ter sido atingido por disparos das tropas israelitas, na versão da empresa proprietária do veículo. As Forças de Defesa de Israel afirmam estar “100 por cento seguras” de que não foram efectuados quaisquer disparos contra o camião.








O Estado hebraico está também a a ser acusado das mortes deliberadas de 31 civis em Gaza, depois do ataque a um complexo escolar das Nações Unidas.








“Testemunhas oculares afirmaram que, no domingo, os militares israelitas evacuaram cerca de 100 pessoas para uma casa no bairro de Zeitun, a Sul da cidade de Gaza. No dia seguinte, a casa foi bombardeada e, segundo as mesmas testemunhas oculares, terão morrido cerca de 30 pessoas e muitas ficaram feridas”, adiantou Allegra Pacheco, do gabinete das Nações Unidas em Jerusalém.








“Só vários dias depois é que as ambulâncias puderam chegar à zona para evacuar os feridos”, acrescentou.








Por sua vez, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, afirmava na sexta-feira que alguns dos incidentes relatados a partir de Gaza constituem matéria para futuros processos por crimes de guerra.








Carlos Santos Neves, RTP


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