domingo, 15 de novembro de 2009

Planalto lançará uma série de medidas para fortalecer a candidatura de Dilma

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Daniela Lima
Daniel Pereira


O governo tem pronto um pacote de bondades destinado a neutralizar os efeitos do apagão e dar musculatura à candidatura presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). As medidas sairão do papel entre dezembro deste ano e julho de 2010, três meses antes das eleições. Bancadas pelo Tesouro Nacional, a maioria delas resultará em mais recursos no bolso dos eleitores, sejam beneficiários de programas sociais ou servidores da burocracia federal. “O blecaute terá repercussão política quase nula. A oposição se apega a ele porque está desorientada, sem propostas nem bandeiras”, diz um dos generais petistas da coordenação de campanha de Dilma.

A declaração otimista esconde uma preocupação que atormenta Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente se irritou com a falta de luz que atingiu 18 estados brasileiros. E, como ficou claro na última sexta-feira, considerou insatisfatórias as explicações(1) dadas por seus auxiliares, incluindo Dilma. De olho nas urnas, exigiu atenção redobrada aos investimentos no setor elétrico a fim de evitar a repetição do problema, que afetou cerca de 60 milhões de brasileiros entre terça e quarta-feira passadas. No roteiro de Lula, o apagão é o único ponto fora da curva. O restante do cenário seria róseo e amplamente favorável à concorrente petista.

“Nunca um governo chegou à disputa presidencial em condições tão favoráveis. O Congresso está sob controle. O Brasil superou a crise mundial. A economia nacional está bombando”, afirma um dos ministros mais influentes da equipe de Lula. Pela previsão oficial, haverá expansão de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. Ou seja, no ano da sucessão aumentarão o emprego, o consumo e, assim, a sensação de bem-estar que sustenta o nível recorde de aprovação popular do presidente. O pacote de bondades serviria para azeitar a pré-campanha de Dilma. Implantado de forma gradual, ajudaria ainda a neutralizar eventuais obstáculos surgidos no processo eleitoral. Como o apagão.

O primeiro afago na população sairá no mês que vem. Por determinação do presidente, a Receita liberará outro megalote de restituição do Imposto de Renda. A ideia é injetar dinheiro na economia e garantir o “melhor Natal de todos os tempos”, conforme promessa do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em janeiro, o governo dará um aumento acima da inflação a cerca de 8 milhões de aposentados e pensionistas que recebem mais de um salário mínimo por mês. Haverá ainda correções salariais para setores do funcionalismo. Além da construção de moradias populares por meio do programa Minha Casa, Minha Vida. De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), pelo menos 600 mil unidades estarão em construção em meados de 2010.

Oposição
Tucanos e democratas estavam à frente do Planalto quando houve o apagão de 1999 e o racionamento de energia, que durou quase um ano, em 2001. Apesar disso, prometem lançar mão do blecaute da vez a fim de fustigar a “mãe do PAC”. Alegam que se trata da primeira falha na gestão Lula, desde a escolha de Dilma como candidata, de impacto direto sobre a população. “Esse assunto é o que é: uma grande falha governamental. É isso, associado a outros dados, que vão construir o cenário de debilidade da administração do presidente Lula. As outras questões ficavam muito vagas para a maioria da população”, afirmou o presidente nacional do PSDB, senador Sério Guerra (PE).

Antes do apagão, os oposicionistas direcionavam o discurso a temas técnicos. Como o crescimento das despesas correntes da máquina pública. Enfrentavam dificuldades para estabelecer um diálogo com grande parte do eleitorado. A reação(2) da ministra diante da crise no setor elétrico também será explorada. “Esse episódio nos ensinou duas coisas. A primeira é que o sistema elétrico é mais do que vulnerável. A segunda é que a ministra Dilma não tem liderança política nem preparo para lidar com crises”, disse Guerra (PE). “Ela se posicionou como uma pessoa arrogante, de pavio curto. Mostrou que falta a ela experiência e capacidade para responder pela administração”, acrescentou o deputado Rodrigo Maia (RJ), presidente do Democratas.

Para Maia, a ministra perdeu uma oportunidade de se apresentar com serenidade e confiança. “Foi a exposição de uma pessoa com pouco equilíbrio, agressiva. Ela, que foi ministra de Minas e Energia, ficou sem ação”, criticou. “A ministra destratou uma jornalista só porque ela ousou perguntar sobre o apagão. É autoritária”, complementou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). A harmonia das declarações não é à toa. PSDB e DEM querem minar a imagem de “gestora eficiente” propagandeada por Lula. E deixar claro que, com o petista fora do Planalto, também sairá de cena o estilo “paz e amor”.


1- São Pedro
Quase 20 horas depois do apagão, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, culpou ventos e chuvas fortes pela falta de luz. No dia seguinte, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, manteve a versão. Na sexta-feira, no entanto, o próprio presidente Lula deu um pito nos auxiliares e cobrou uma explicação técnica para o episódio.

2- Dama de ferro
Na entrevista sobre o blecaute, a candidata petista à Presidência deixou de lado o estilo “paz e amor” e respondeu em tom ríspido a uma pergunta feita por uma repórter. Dilma chegou a lançar mão do termo “minha filha”, que tanto temor provoca entre integrantes do primeiro escalão do governo. 
 
 
 
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