terça-feira, 30 de setembro de 2008

Para especialistas, hífen pode complicar reforma ortográfica






Controvérsias serão resolvidas só com a criação de um vocabulário.
Processo pode demandar meses para ser solucionado.





Simone Harnik Do G1, em São Paulo


Favoráveis ou não às mudanças ortográficas, especialistas ouvidos pelo G1 são unânimes ao afirmar que as novas regras do hífen são as mais polêmicas e que exigem maior trabalho da Academia Brasileira de Letras (ABL) na implementação do acordo ortográfico sancionado nesta segunda-feira (29) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.







“O problema sério é o uso do hífen, hoje ele é muito complicado. Houve uma tentativa de racionalização do seu uso, mas há muitas exceções”, afirma o professor de lingüística da Universidade de São Paulo (USP) José Luiz Fiorin.







Segundo o professor, o acordo assinado tem lacunas sobre as palavras compostas que levam o sinal gráfico. “O acordo diz que nas palavras formadas por composição haverá o hífen, exceto quando se perdeu a noção da composição. Mas a perda não pode ficar a critério de cada falante”, aponta.






Fiorin exemplifica o problema com as palavras “madressilva” (nome de uma planta) e “pára-quedas”. Para o professor, o acordo não define claramente qual será o destino desses vocábulos. A solução está na criação de um vocabulário pela ABL, que estabelece as normas para os vazios deixados pela reforma.







“Se o vocabulário for baseado só no que muda, não demora muito para fazer: é questão de alguns poucos meses. Mas se for necessário construir todo o vocabulário, o processo vai demorar muito”, afirma.





Mãos à obra

Crítico da reforma ortográfica, o professor Sérgio Nogueira argumenta que agora é hora de enfrentar o problema. “A essa altura, não tem mais jeito. É inevitável, a reforma, então temos de aprender”, afirmou.







Na opinião de Nogueira, o acordo não serve para unificar a língua dos oito países que falam português. “Há diferenças que a reforma não pega, que são os aspectos semânticos e sintáticos.”







“O pior problema vai ser com o hífen, que já é difícil por natureza. As pessoas não têm conhecimento sobre a regra”,diz. “Ainda há casos problemáticos e há palavras que têm duas grafias. Tudo isso precisa ser resolvido”, diz.







Para o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e autor do livro “Escrevendo pela Nova Ortografia”, José Carlos Santos de Azeredo, o texto aprovado tem um vácuo quando aborda o uso do hífen.







“O acordo não é muito preciso no que diz respeito às formas constituídas de dois substantivos ligados por preposição”, diz. O exemplo é a palavra “pé-de-cabra” (nome de uma ferramenta), que, segundo as novas regras, não deveria ter hífen. No entanto, de acordo com Azeredo, o próprio acordo aponta que, em composições de palavras cujo uso do hífen se consagrou, não haverá alterações.



Calendário das mudanças

As mudanças na escrita começam a valer a partir de 1º de janeiro de 2009. A reforma da ortografia pretende unificar o registro escrito nos oito países que falam português - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal.







De 2009 até 31 de dezembro de 2012, ou seja, durante quatro anos, o país terá um período de transição, no qual ficam valendo tanto a ortografia atual quanto as novas regras. Assim, concursos e vestibulares deverão aceitar as duas formas de escrita – a atual e a nova.







Nos livros escolares, a incorporação das mudanças será obrigatória a partir de 2010. Em 2009, podem circular livros tanto na atual quanto na nova ortografia.






O que muda na escrita

De acordo com especialistas, 0,45% das palavras brasileiras sofrerão alterações, ao passo que em Portugal haverá mudanças em 1,6% dos vocábulos. As regras que mudam são as seguintes:







Novas letras – há a incorporação do "k", do "w" e do "y" ao alfabeto. O número de letras passa de 23 para 26.







Trema – deixa de existir. A grafia passa a ser: linguiça e frequente.







Acentos diferenciais – serão suprimidos acentos como o de “pára”, do verbo parar.







Acentos agudos de ditongos – somem os acentos de palavras como “idéia”, que vira “ideia”.







Acento circunflexo – somem os acentos de “vôo” ou de “crêem”.







Hífen – palavras começadas por “r” ou “s” não levarão mais hífen, como em anti-semita (ficará “antissemita”) ou em contra-regra (ficará contrarregra).






Pontos em aberto

O acordo não define todos os usos de hífens, por exemplo. Assim, palavras como pé-de-cabra, ainda não têm o rumo certo e dependem da elaboração de um vocabulário pela Academia Brasileira de Letras e pelos órgãos dos outros sete países signatários.





História do acordo

O acordo ortográfico da língua portuguesa foi assinado em Lisboa em 1990 e deveria ter entrado em vigor em 1994, o que não se concretizou. Em 1998, foi assinado em Cabo Verde um protocolo que modificava a data de vigência, que foi ratificado em 2002.







Sem que as mudanças se aplicassem, em 2004 foi assinado um novo protocolo modificativo, que previa a adesão do Timor Leste, independente desde 2002. Este novo protocolo previa que as mudanças na ortografia entrariam em vigor a partir da assinatura de três países.







O acordo ortográfico já foi ratificado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Portugal, e, portanto, pode entrar em vigor. O processo de implementação em cada país pode variar.






Em Portugal, o acordo foi aprovado em maio e a nova ortografia deverá ser obrigatória dentro de seis anos.










http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL778503-5604,00-PARA+ESPECIALISTAS+HIFEN+PODE+COMPLICAR+REFORMA
+ORTOGRAFICA.html








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