Controvérsias serão resolvidas só com a criação de um vocabulário.
Processo pode demandar meses para ser solucionado.
Simone Harnik Do G1, em São Paulo
“O problema sério é o uso do hífen, hoje ele é muito complicado. Houve uma tentativa de racionalização do seu uso, mas há muitas exceções”, afirma o professor de lingüística da Universidade de São Paulo (USP) José Luiz Fiorin.
Segundo o professor, o acordo assinado tem lacunas sobre as palavras compostas que levam o sinal gráfico. “O acordo diz que nas palavras formadas por composição haverá o hífen, exceto quando se perdeu a noção da composição. Mas a perda não pode ficar a critério de cada falante”, aponta.
Fiorin exemplifica o problema com as palavras “madressilva” (nome de uma planta) e “pára-quedas”. Para o professor, o acordo não define claramente qual será o destino desses vocábulos. A solução está na criação de um vocabulário pela ABL, que estabelece as normas para os vazios deixados pela reforma.
“Se o vocabulário for baseado só no que muda, não demora muito para fazer: é questão de alguns poucos meses. Mas se for necessário construir todo o vocabulário, o processo vai demorar muito”, afirma.
Mãos à obra
Crítico da reforma ortográfica, o professor Sérgio Nogueira argumenta que agora é hora de enfrentar o problema. “A essa altura, não tem mais jeito. É inevitável, a reforma, então temos de aprender”, afirmou.
Na opinião de Nogueira, o acordo não serve para unificar a língua dos oito países que falam português. “Há diferenças que a reforma não pega, que são os aspectos semânticos e sintáticos.”
“O pior problema vai ser com o hífen, que já é difícil por natureza. As pessoas não têm conhecimento sobre a regra”,diz. “Ainda há casos problemáticos e há palavras que têm duas grafias. Tudo isso precisa ser resolvido”, diz.
Para o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e autor do livro “Escrevendo pela Nova Ortografia”, José Carlos Santos de Azeredo, o texto aprovado tem um vácuo quando aborda o uso do hífen.
“O acordo não é muito preciso no que diz respeito às formas constituídas de dois substantivos ligados por preposição”, diz. O exemplo é a palavra “pé-de-cabra” (nome de uma ferramenta), que, segundo as novas regras, não deveria ter hífen. No entanto, de acordo com Azeredo, o próprio acordo aponta que, em composições de palavras cujo uso do hífen se consagrou, não haverá alterações.
Calendário das mudanças
As mudanças na escrita começam a valer a partir de 1º de janeiro de 2009. A reforma da ortografia pretende unificar o registro escrito nos oito países que falam português - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal.
De 2009 até 31 de dezembro de 2012, ou seja, durante quatro anos, o país terá um período de transição, no qual ficam valendo tanto a ortografia atual quanto as novas regras. Assim, concursos e vestibulares deverão aceitar as duas formas de escrita – a atual e a nova.
Nos livros escolares, a incorporação das mudanças será obrigatória a partir de 2010. Em 2009, podem circular livros tanto na atual quanto na nova ortografia.
O que muda na escrita
De acordo com especialistas, 0,45% das palavras brasileiras sofrerão alterações, ao passo que em Portugal haverá mudanças em 1,6% dos vocábulos. As regras que mudam são as seguintes:
Novas letras – há a incorporação do "k", do "w" e do "y" ao alfabeto. O número de letras passa de 23 para 26.
Trema – deixa de existir. A grafia passa a ser: linguiça e frequente.
Acentos diferenciais – serão suprimidos acentos como o de “pára”, do verbo parar.
Acentos agudos de ditongos – somem os acentos de palavras como “idéia”, que vira “ideia”.
Acento circunflexo – somem os acentos de “vôo” ou de “crêem”.
Hífen – palavras começadas por “r” ou “s” não levarão mais hífen, como em anti-semita (ficará “antissemita”) ou em contra-regra (ficará contrarregra).
Pontos em aberto
O acordo não define todos os usos de hífens, por exemplo. Assim, palavras como pé-de-cabra, ainda não têm o rumo certo e dependem da elaboração de um vocabulário pela Academia Brasileira de Letras e pelos órgãos dos outros sete países signatários.
História do acordo
O acordo ortográfico da língua portuguesa foi assinado em Lisboa em 1990 e deveria ter entrado em vigor em 1994, o que não se concretizou. Em 1998, foi assinado em Cabo Verde um protocolo que modificava a data de vigência, que foi ratificado em 2002.
Sem que as mudanças se aplicassem, em 2004 foi assinado um novo protocolo modificativo, que previa a adesão do Timor Leste, independente desde 2002. Este novo protocolo previa que as mudanças na ortografia entrariam em vigor a partir da assinatura de três países.
O acordo ortográfico já foi ratificado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Portugal, e, portanto, pode entrar em vigor. O processo de implementação em cada país pode variar.
Em Portugal, o acordo foi aprovado em maio e a nova ortografia deverá ser obrigatória dentro de seis anos.
http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL778503-5604,00-PARA+ESPECIALISTAS+HIFEN+PODE+COMPLICAR+REFORMA
+ORTOGRAFICA.html
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