quarta-feira, 11 de junho de 2008

Secretária da Casa Civil conduziu reuniões sobre Varig, diz ex-diretora








Secretária da Casa Civil conduziu reuniões sobre Varig, diz ex-diretora







EDUARDO CUCOLO
da Folha Online, em Brasília







A secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, foi apontada pela ex-diretora da Anac (Agência Nacional da Aviação Civil) Denise Abreu como responsável por uma das principais reuniões entre as duas partes, no Palácio do Planalto, em relação ao caso Varig/VarigLog.





Essas reuniões teriam sido parte do processo de pressão do governo e da ministra Dilma Rousseff sobre a agência para aprovar a venda da Varig e da Variglog para o fundo americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros, segundo Denise.





"Fomos chamados para dar satisfações, como se crianças fôssemos", afirmou.





Denise disse acreditar também que Erenice tenha conversado com o ex-presidente da Anac Milton Zuanazzi no dia em que foi aprovada a venda da Variglog. "Era uma voz de mulher", disse. "Eu tenho a forte impressão de que era a Erenice Guerra com quem ele estava falando."





No dia 23 de junho de 2006, o então presidente da Anac convocou uma reunião de diretoria para votar o caso Varig. Uma ação movida pelo escritório do advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula e representante do fundo norte-americano, no entanto, impediria a realização dessa reunião.





Segundo Denise, um telefonema de Zuanazzi teria resolvido o problema. Logo após a ligação, o escritório retirou a ação e a reunião foi realizada, com resultado favorável à Variglog.





Para Denise, o ex-presidente da agência foi "usado" pela ministra Dilma Rousseff, devido à sua "relação de carinho e amizade" com a ministra.





Ordem

Em depoimento a comissão no Senado, Denise Abreu afirmou hoje que houve ingerência do governo sobre a agência para aprovar as vendas. Ela negou, no entanto, ter recebido ordens diretas da ministra Dilma Rousseff para beneficiar o fundo norte-americano Martlin Patterson.





No início de seu depoimento no Senado, Denise afirmou que sofreu pressão da Casa Civil, mas negou ter recebido ordens diretas da ministra. Após as declarações, ela foi questionada pelos senadores sobre uma suposta contradição nas afirmações.





"Eu não recebi ordem, não. Ninguém disse faço isso ou faça aquilo", disse Denise. "Teve ingerência, sim. Com todos os questionamentos, determinando os caminhos que a agência reguladora deveria seguir. Uma forma de pressionar a agência a tomar uma decisão."





Bode expiatório

Em depoimento hoje, Abreu disse que foi transformada em "bode expiatório" durante a crise aérea deflagrada com a crise da Varig. A ex-diretora da Anac afirmou ainda que foi convocada por Dilma Rousseff em abril de 2006, quando foi solicitado um plano de contingência para evitar problemas para os passageiros com a possível quebra da empresa.





Surgiram então boatos de que a diretoria estaria fazendo lobby para que a TAM e a Gol ficassem com as linhas da Varig. Segundo ela, 20 dias após a primeira reunião, foi chamada novamente pela ministra e acusada de lobby. "Nós não conseguimos entender o porquê da mudança de decisão governamental."





Ela afirmou também que houve pressão para análise dos documentos apresentados pelo escritório Teixeira Martins, do advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula e advogado do fundo americano.





Os problemas com Teixeira teriam começado em um encontro com sua filha, a advogada Valeska Teixeira, que teria procurado Denise no Rio de Janeiro.





"Ela vem até mim e pondera sobre as exigências contidas no ofício, até de uma forma bastante irreverente para um advogado frente ao poder público, e diz que é amiga do ministro José Dirceu e afilhada do presidente da República."




Denise teria aconselhado Valeska a procurar a Justiça. Diante da recusa da ex-diretora em mudar de posição, o escritório teria entrado com uma ação contra a agência.





Mais pressão

Sobre o negócio com a VarigLog, Abreu relatou que exigiu uma série de documentos para verificar se os sócios brasileiros do fundo não estariam sendo utilizados como laranjas para que a empresa fosse vendida para sócios estrangeiros.





"Eu não poderia deixar de fazer essas exigências tendo em vista uma denúncia de um sindicato que congrega todas as empresas aéreas brasileiras", disse ela em relação a uma denúncia feita pelo Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas).





Surgiu então outro problema com a Casa Civil. "Na seqüência, nós tivemos outra reunião com a ministra Dilma e a Erenice Guerra [secretária-executiva da Casa Civil], onde eu fui indagada expressamente sobre as razões que me levaram a fazer essas exigências que não eram expressas na lei", afirmou.





Ela explicou que não haveria como verificar o limite de capital estrangeiro, limitado a 20% pela lei, sem apurar a entrada de capital. "Essas reuniões eram muito demoradas, nós éramos muito questionados sobre todos os passos técnicos e jurídicos adotados. Houve uma reunião muito longa, de 9 horas, chegou a ser uma sabatina."




www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u411376.shtml

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