AFP E AP
A junta militar de Mianmar começou ontem a expulsar as vítimas do ciclone Nargis dos acampamentos e abrigos criados pelo governo, aparentemente para evitar que eles se tornem permanentes, segundo denúncia das Nações Unidas.
De acordo com Teh Tai Ring, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), oito acampamentos instalados no povoado de Bogalay, no delta do Rio Irrawaddy, foram “totalmente esvaziados”. “O governo está desalojando as pessoas sem avisá-las”, disse Ring. “Eles estão abandonando essa gente em zonas afastadas das aldeias praticamente sem nada.”
Mais tarde, a Unicef emitiu um comunicado fazendo a ressalva de que as declarações foram feitas com base em relatos não confirmados. Em Rangun, mais de 400 pessoas, habitantes da aldeia de Laguna, foram expulsas de uma igreja que lhes servia de refúgio, de acordo com um religioso que não quis se identificar. “Essas pessoas perderam suas cassa, famílias e toda a aldeia foi arrasada”, disse. “Eles não têm para onde ir.”
Com exceção de mulheres grávidas, crianças e doentes graves, os desabrigados foram transportados em 11 caminhões. Segundo as autoridades, eles serão levados para outro acampamento em Myaung Mya, vilarejo pouco afetado pelo ciclone. O governo disse que as pessoas estavam sendo transferidas porque já deu por finalizada a fase de “assistência” às vítimas do desastre e pretende iniciar a etapa de “reconstrução”.
O ciclone Nargis atingiu Mianmar no início do mês, matando 77 mil birmaneses, segundo o governo - 130 mil, de acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. A ONU divulgou que entre 1,5 milhão e 2,5 milhões de birmaneses ficaram sem alimentos e água. Mas a junta militar que governa o país só aceitou alguma ajuda humanitária estrangeira após muita pressão internacional.
Ontem, a junta birmanesa incitou a população afetada pelo Nargis a “comer rãs” em vez de aceitar os “tabletes de chocolate” enviados pela comunidade internacional. A sugestão foi feita num artigo publicado no diário oficial, Nova Luz da Birmânia, em que se critica o fato da comunidade internacional ter colocado como condição para o envio de mais recursos o acesso de organizações humanitárias estrangeiras ao delta de Irrawaddy.
“A população é capaz de se recuperar do ciclone, mesmo sem a ajuda internacional”, diz o Nova Luz da Birmânia. “(Os habitantes das zonas costeiras) podem conseguir peixes e há grandes rãs comestíveis em abundância.”
http://txt.estado.com.br/editorias/2008/05/31/int-1.93.9.20080531.3.1.xml
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