terça-feira, 4 de março de 2008

Banda inglesa levou ao delírio os fãs, que sabiam de cor todo o repertório do show









Marco Bezzi





Quando os incrédulos dizem que a besta vai te pegar, acredite. Mesmo que Ela esteja caracterizada na pele de seis veteranos de palco com mais de 30 anos de carreira. Nem idade, nem contexto, muito menos a previsibilidade faria do show que o Iron Maiden fez no domingo à noite no estádio Palestra Itália algo menor. A banda comemorava o lançamento do DVD Live After Death, e tocaria a maioria do repertório do álbum ao vivo - homônimo - lançado em 1985.




Antes de temas como Winston Churchill, o Egito e a Bíblia tomarem a alma das 40 mil pessoas que se atracavam entre pistas e cadeiras, uma chuva torrencial lavou o couro da galera. Foram 15 minutos ininterruptos, que outrora poderiam esfriar os headbangers. Mas acredite, nada mudou. Antes da chuva, entretanto, a filha do baixista Steve Harris, Lauren, tocou por meia hora. Nepotismo? E o Brasil não é um dos países que mais exercem esse favorecimento? Bem-vindo, Steve.




Cessada a chuva, os dois telões ganharam imagens do Boeing 757 (apelidado de Ed Force One) pilotado pelo comandante e vocalista Bruce Dickinson. Exatamente às 20h10, The Ides of March, canção do álbum Killers (1981), fazia a trilha para imagens de bastidores que contemplavam a novidade que fez até a CNN dispor de uma equipe e filmar um documentário de 30 minutos para um futuro próximo.




A emenda para as cenas aéreas não poderia ser mais exata. O som da 2ª Guerra Mundial vinha capitaneada pela voz do inglês Winston Churchill. Nesse momento, 1984 e o álbum Powerslave entraram na avenida. Aces High fez o estádio tremer. Para os veteranos de plantão, a música trazia um gosto doce de saudosismo. À época, o Iron Maiden havia se transformado na maior banda de heavy metal do mundo. A invasão estava apenas começando.




Bruce Dickinson olha para o céu e avisa: 'Chuva? Aposto que são as Spice Girls mijando na nossa cabeça', e manda ver em 2 Minutes To Midnight. O vocalista deslizava em um palco ainda úmido. Sua voz, incrivelmente, está melhor do que há 20 anos. A alcunha de 'Sirene aérea' que ganhou no início de carreira poderia ser novamente utilizada. Seus agudos e gritos eram alçados na medida.




Antes de Revelations, do álbum Piece of Mind (1983), Bruce pára e começa a rir sem parar. Faz cara de quem não acredita no tamanho da multidão. Relembra o Rock In Rio e sua paixão pelo Brasil. Agradece pelos ingressos esgotados em três dias e abraça o guitarrista Dave Murray.




Logo adiante, pegaria a bandeira da Inglaterra e berraria no microfone: 'The Trooper!' Depois de falar de sua pátria, relembraria os Anos Dourados com Wasted Years, canção do álbum Somewhere In Time (1986). Imagine todos os clichês relacionados à música e você pode ter uma idéia de como ficou o estádio nesse momento.




The Number of the Beast caía naquele discurso do previsível. Aliás, todo o repertório desta turnê estava na ponta da língua de seus fãs. São apresentações comemorativas, que ganham força em relação aos últimos shows que a Donzela de Ferro fez em todo o mundo. Na turnê anterior a esta Somewhere Back In Time Tour, Bruce avistou na platéia um cartaz que dizia: 'Toquem os clássico.' Na época, a banda estava ancorada no álbum A Matter of Life and Death. E para desespero do fãs, o tocavam de cabo a rabo. 'Quem quer ouvir música nova?', perguntariam os conservadores. A mesma pergunta que caberia para os Rolling Stones.




Melhor então seria discutir essa relação com uma cerveja gelada. O preço de R$ 5 assustava. Pior ainda era não ter banheiro próximo para se desafogar. Mesmo assim, era tudo pelo heavy metal.




Assistir à performance de Steve Harris fez o sorriso voltar à face. O baixista continua em forma - como demonstrou no jogo de futebol que fez contra convidados brasileiros, no sábado, quando meteu dois dos sete gols da vitória de 7 X 0 do seu time. Antes de esmerilhar seu instrumento em cima do palco, Harris foi seguir outro clássico: assistiu de camarote à vitória do Palmeiras em cima do Corinthians. De lambuja, ainda tirou uma foto com a próxima capa da Playboy, a ex-BBB Jackeline Khury.




Sua técnica de cavalgada levou adiante a épica The Rime of The Ancient Mariner, clássico de mais de 13 minutos baseada no poema do inglês Samuel Taylor Coleridge. Iron Maiden também é cultura. Powerslave veio em seguida. Incrível imaginar que daquela catacumba ainda poderiam sair tantas emoções. Para os fãs, ter a oportunidade de acompanhar essas canções ao vivo novamente é como alcançar o Santo Graal mais de uma vez. Pois foram 22 fãs que subiram em Heaven Can Wait e cantaram em coro o trecho destinados a eles em todos os shows.




MALDIÇÃO




Em Iron Maiden, de 1980, o mascote da banda, Eddie, veio vestido de Blade Runner, assim como na capa de Somewhere In Time. Saindo mais uma vez dos Anos Dourados, Fear of The Dark, de 1992, contemplou o público mais jovem. Antes do bis, Bruce Dickinson prometeu voltar em um ano com o palco completo para o Brasil. Como de costume, faltaram fogos e efeitos especiais. Também faltaram canções como Flight of Icarus. Mas aí é covardia. Não dá para exigir um repertório dos sonhos de cada um nas duas horas que durou o show.




O bis veio com Moochild e Clairvoyant (as duas do álbum Seventh Son of A Seventh Son, de 1988) e teve sua apoteose com Hallowed Be Thy Name. Hora de descansar e já imaginar que, daqui a menos de um ano, todos passariam pela mesma situação. Porque não importa onde você estiver. A 'maldição' do Iron Maiden é para sempre.




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