Maior linha de crédito já oferecida pelo BNDES a um grupo brasileiro será usada para financiar investimentos
Nilson Brandão Junior, RIO
A Vale obteve no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) uma linha de crédito rotativo de R$ 7,3 bilhões, a maior já concedida pela instituição para um grupo empresarial brasileiro. A Vale informa que está em negociações com outras instituições de fomento no mundo, basicamente na China, Japão e Alemanha, para linhas de financiamento semelhantes. Os financiamentos serão usados para os investimentos de US$ 59 bilhões que a empresa fará até 2012, dos quais 80% serão no Brasil.
"Ter um colchão de liquidez é sempre fundamental", afirmou o presidente da Vale, Roger Agnelli, durante coletiva de imprensa na sede do banco. O executivo negou que a busca de financiamento em instituições de fomento tivesse alguma ligação com a crise internacional, que para alguns economistas pode gerar um enxugamento da liquidez e encarecimento do crédito internacional. "Zero de relação", afirmou, em resposta a uma pergunta sobre o tema, durante a entrevista.
A Vale já assinou um acordo para levantar um financiamento rotativo de US$ 2 bilhões com a agência japonesa Nexi (Nippon Export and Investment Insurance). Outros bancos com os quais a Vale está negociando são o China Development Bank, Bank of Communications, China Bank, China Eximbank, Citic e a seguradora Sinosure. Segundo o diretor-executivo de finanças da Vale, Fabio Barbosa, os contatos da Vale com agências de fomento vêm desde o início do segundo semestre do ano passado.
Na prática, algumas dessas agências têm interesse direto em apoiar os investimentos da Vale, já que seus países de origem são compradores das matérias-primas da mineradora brasileira. Além disso, a companhia informa que esses valores não ampliarão o endividamento da empresa, já que algumas operações existentes serão quitadas. A linha do BNDES inclui 80% de variação da dívida atrelada ao dólar e 20% à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), de 6,25% ao ano, com spreads que variarão conforme os projetos.
O presidente do banco, Luciano Coutinho, afirmou que o financiamento servirá para 18 projetos que a Vale tem no Brasil. Ele também explicou que o fato de o BNDES financiar o plano de expansão da Vale funciona como uma espécie de apoio e sinalizador para as demais instituições financeiras. "Quando um banqueiro empresta, o outro banco empresta também", complementou, em tom de brincadeira, o presidente da Vale.
Para oferecer a nova linha, o BNDES fez uma mudança de estatuto em dezembro passado. A alteração permitiu que a instituição de fomento concedesse financiamento a um grupo que seja tradicional cliente do banco, independentemente da empresa controlada que venha a fazer a solicitação. Conhecendo a classificação de risco do grupo, o empréstimo sai com maior agilidade.
Já tiveram operações de crédito desse tipo aprovadas no banco os grupos Gerdau, Ultra, Copesul, Usiminas, Klabin, Braskem e Elekeiroz.
Embora não pretenda sacar este ano todos os recursos da linha acertada com o banco de fomento, a Vale informou que o financiamento do BNDES será, na prática, a principal fonte de financiamento para os investimentos estimados em US$ 11 bilhões em 2008.
XSTRATA
Agnelli voltou a comentar que Vale e Xstrata não estão negociando neste momento. "Não há mais negociações, encerraram, acabou", disse. Ele citou que os entendimentos para eventual compra da mineradora anglo-suíça poderiam, por hipótese, recomeçar a qualquer momento. Bastaria para isso avisar ao mercado que a negociação estaria sendo retomada. Para ele, a junção das duas empresas é estratégica tanto para Vale quanto para a própria Xstrata.
Ele explicou que Glencore, acionista que detém 35% do capital da Xstrata, tem critérios de visão estratégica de longo prazo que não são os mesmos estabelecidos pela companhia brasileira. Na negociação, a Glencore queria estender aos produtos da Vale os contratos de exclusividade para comercialização de produtos que detém hoje na Xstrata. A Vale se opõe a essa possibilidade. Segundo Agnelli, a prioridade da companhia, nesse momento, é o crescimento orgânico - ou seja, sem aquisições.
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