segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Visita de Khadafi causa polêmica na França

DANIELA FERNANDES
da BBC BRASIL, em Paris




A primeira visita do presidente da Líbia, Muammar Khadafi, à França em mais de três décadas está causando grande polêmica no país.




Partidos de oposição, intelectuais e grupos de defesa de direitos humanos acusaram o presidente do país, Nicolas Sarkozy, de privilegiar interesses comerciais e ignorar o passado do líder líbio, marcado por acusações de violação de direitos humanos e patrocínio de atividades terroristas.




As críticas contra a visita de Kadafi ganharam força desde a última sexta-feira, depois que ele declarou, na véspera da cúpula União Européia-África em Lisboa, considerar "normal que os fracos recorram ao terrorismo para enfrentar as grandes potências".




"Sarkozy vai receber um chefe de Estado que acha o terrorismo internacional algo justificável. Nenhuma assinatura de contrato comercial pode explicar tal cegueira do presidente francês", afirmou o secretário-geral do Partido Socialista, François Hollande.




Boicote



Esta é a primeira viagem de Kadafi à França desde 1973. Durante os cinco dias em que permanecerá no país, o líder líbio terá dois encontros com o presidente Sarkozy.






Os socialistas já declararam que tentarão boicotar a visita de Kadafi ao Parlamento francês, prevista para terça-feira.




Já o presidente Sarkozy disse à Khadafi, no encontro em Lisboa, no sábado, diante de câmeras de TV, que está "muito feliz de recebê-lo em Paris".




As autoridades francesas afirmam que Khadafi realizou uma série de gestos importantes no passado recente, como ter renunciado ao programa de armas nucleares em 2003 e libertado as enfermeiras búlgaras acusadas de terem contaminado pacientes com o vírus HIV, episódio que teve a mediação do presidente Sarkozy.




O governo francês espera concluir vários contratos com a Líbia, sobretudo na área de armamentos e energia nuclear. De acordo com Said Kadafi, filho do coronel, a Líbia vai realizar negócios com a França de mais de 3 bilhões de euros.




"Vamos comprar aviões Airbus, um reator nuclear e queremos também comprar equipamentos militares", declarou o filho de Khadafi ao jornal "Le Figaro".




Além disso, o governo líbio anunciou investimentos de US$ 100 bilhões em projetos de infra-estrutura, como aeroportos, estradas e hotéis. As empresas francesas estarão de olho nessas oportunidades de negócios.




De acordo com especialistas, o coronel Khadafi, após tantos anos de sanções contra seu regime, busca reconhecimento internacional. Por isso, dizem os analistas, ele utilizará sua visita à França como um elemento importante nesse retorno à cena diplomática.




"O coronel Khadafi vem selar em Paris sua reabilitação diplomática", escreveu o jornal "Le Monde" em sua edição do final de semana.




Interesses



Nos últimos dias, adjetivos como "inadmissível e indigna", foram utilizados por personalidades da oposição para qualificar a visita de Khadafi.






Membros do próprio governo de Sarkozy se manifestaram contra a visita do líder líbio. Rama Yade, secretária de Estado para os Direitos Humanos, declarou estar "muito chocada", pois "o prestígio da França não é devido somente à sua potência econômica, mas também a princípios e valores que fazem da França um país único".




"Ficarei ainda mais incomodada se a diplomacia francesa se contentar em assinar contratos comerciais e não exigir de Khadafi garantias em termos de direitos humanos", afirmou.




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