Cerimônia sem graça, figurinos pavorosos e obviedades musicais na festa que premiou Caetano
Veloso e Daniela Mercury
Lauro Lisboa Garcia
Se o Grammy americano já é aquilo, imagine o latino. A festa de entrega dos prêmios da oitava edição, anteontem, foi, como se previa, um show de cafonice. Não é à toa que a cidade escolhida foi Las Vegas. Se a cerimônia em si já é absolutamente sem graça, mas risível, na transmissão pela TV Band ficou ainda pior, com comentários - dignos de José Wilker na entrega do Oscar, ou seja pra lá de redundantes - da jornalista Mariana Ferrão, do cantor Paulo Ricardo e do produtor musical Guto Graça Mello. É Galvão Bueno fazendo escola.Pois, então, aos vencedores as batatas. Caetano Veloso levou dois prêmios, na categoria de álbum de 'cantautor', concorrendo com o uruguaio Jorge Drexler e o cubano Silvio Rodriguez, entre outros, e melhor canção brasileira (Não me Arrependo), ambos pelo bom Cê.
A maioria dos brasileiros premiados não apareceu para pegar o troféu, com exceção de Daniela Mercury (melhor álbum de música regional ou de raízes brasileiras por Balé Mulato ao Vivo) e Aline Barros (pelo CD Caminho de Milagres na categoria música cristã em língua portuguesa). Bonita com um vestidão branco, Daniela foi bem recebida pela platéia. Ela é uma das que levam a sério o prêmio e aproveitou a ocasião para reivindicar maior presença de latino-americanos no palco da festa do primo rico, o Grammy ianque. Depois voltou para dar seu show, num vestido vermelho mais adequado à bizarrice geral. Aline já foi bem de acordo, de verde: parecia ter saído de uma peça infantil ecológica, no papel de pé de alface.
Além de Caetano e Aline houve apenas mais um vencedor brasileiro fora do eixo nacional. A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sob regência do maestro John Neschling, levou o prêmio de melhor álbum de música clássica, pelo CD Beethoven - Abertura Consagração da Casa - Sinfonia nº 6, empatando com La Canción Romántica Española, da cantora Montserrat Caballé.
É claro que a música brasileira produziu muita coisa melhor do que aquilo que entrou na concorrência. Mas ao Grammy latino, como ao norte-americano, não interessa o teor artístico, mas a popularidade que vende (embora, não venda tanto atualmente), os modismos, blablablá. O problema é que os resultados do prêmio ressaltam para o mercado externo uma impressão equivocada do que no País. Se bem que quem sabe do que rola de bom no circuito indie daqui não vai perder tempo com um prêmio desses.
Com exceção do bom Cê, de Caetano, entre os contemplados brasileiros deu a mesmice comodista dos discos ao vivo e/ou recheados de velharias. Três saíram do famigerado projeto Acústico MTV: Lenine (na categoria de pop contemporâneo brasileiro), Lobão (rock) e Zeca Pagodinho (samba/pagode). Os demais foram Ao Vivo (ora, pois) de César Camargo Mariano e Leny Andrade (categoria música popular brasileira), Eternamente Cauby Peixoto - 55 Anos de Carreira (música romântica). Preguiça.
Só não dá mais vergonha porque a concorrência não era muito das melhores. Indicado em quatro categorias pelo álbum Unplugged MTV (a praga é planetária) o porto-riquenho Ricky Martin levou em duas: álbum pop vocal masculino e vídeo musical versão longa, ao qual também concorria Chico Buarque pela ótima série de Roberto de Oliveira.
O grande vencedor foi o dominicano Juan Luis Guerra e seu grupo 440, cujo CD La Llave de Mi Corazón e a canção-título levaram todos os prêmios aos quais concorriam: álbum do ano, gravação do ano, canção do ano, álbum de merengue, canção tropical, engenharia de gravação. Perdida no meio de 49 categorias, a maioria de pífio significado, surge uma ou outra coisa boa, como Me Llaman Calle, de Manu Chao, a melhor faixa do novo álbum, Radiolina, que levou o Grammy de canção alternativa. Uau. Até isso!!!
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