quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Jefferson recusa delação premiada

Ao depor como réu, ex-deputado confirma esquema, mas se recusa a acusar diretamente outros denunciados

Wilson Tosta, RIO





Interrogado ontem como réu no processo do mensalão aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente nacional do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson, rejeitou a oferta do juiz Marcelo Granado, da 7ª Vara Criminal Federal, para denunciar outros envolvidos no esquema, em troca de benefícios. “Delação premiada é coisa para vagabundo”, reagiu.





Ao mesmo tempo, Jefferson assumiu tom surpreendentemente moderado em seu depoimento. Testemunha-chave do escândalo do mensalão, que desencadeou com denúncias em junho de 2005, o ex-deputado confirmou genericamente o esquema de compra de parlamentares pelo Executivo, mas se recusou a acusar diretamente outros denunciados - evitou ser muito específico até contra quem sempre atacara, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.





“Não posso acusar o presidente Lula, seria irresponsável da minha parte”, disse a jornalistas, após o depoimento, numa mudança de tom em relação a seu comportamento no auge do escândalo, quando ameaçava envolver o Palácio do Planalto.






Mais de uma vez, insistiu que falaria apenas como acusado, pelos fatos que lhe são imputados, recusando-se a se pronunciar, especificamente, sobre outros réus. Foi o que aconteceu quando o juiz lhe perguntou se confirmava acusações de que Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o empresário Marcos Valério operavam o esquema de compra de parlamentares. Quando o magistrado insistiu com relação a Dirceu, admitiu, em tom genérico, que o petista tinha responsabilidade política. “Excelência, José Dirceu era o ministro político do governo”, declarou. “Todos os acordos tinham a chancela dele.”





Ele confirmou ter participado de várias reuniões na Casa Civil com Dirceu e relatou ter conversado também com o então presidente do PT, José Genoino, o secretário-geral Silvio Pereira e Delúbio.





LÁGRIMAS




Também advogado criminalista, o ex-deputado assumiu tom quase elogioso em relação a Lula, que teria ficado com lágrimas nos olhos ao ser informado, pela primeira vez, em janeiro de 2005, sobre a existência do mensalão. Segundo ele, em março daquele ano, voltou a pedir ao presidente que agisse contra o mensalão, em conversa no Palácio do Planalto. Teriam sido testemunhas os deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Walfrido Mares Guia (PTB-MG). “Nunca tinha visto transferência de dinheiro mensal. O cafezinho no fundo do plenário (da Câmara) era um escândalo, as conversas eram de quinta categoria”, contou.





Jefferson apontou o PT como origem dos recursos do mensalão e também do dinheiro que seu partido recebeu para pagar a produção de inserções de televisão, em 2003, e para a campanha de 2004. Quando o juiz Marcelo Granado perguntou por que os pagamentos que o PTB recebeu foram sempre em dinheiro vivo, assumiu tom teatral. “É uma dúvida que também me assalta, excelência.”




Contou que os programas de TV de 2003 custaram R$ 1 milhão, que o PT bancou. No ano seguinte, houve um acordo pelo qual o PTB apoiaria o PT em várias capitais e receberia R$ 20 milhões dos petistas, para pagar sua campanha. “Os R$ 4 milhões iniciais foram cumpridos”, disse. “Os demais R$ 16 milhões, não.”




O ex-deputado afirmou que a aliança com o PT surgiu após o primeiro turno da eleição presidencial de 2002. Em troca do apoio a Lula, recordou, o PTB recebeu o Ministério do Turismo, a presidência da Eletronorte, uma diretoria na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e a presidência da Brasil Resseguros (IRB).



Em entrevista, Jefferson prometeu pedir que o presidente Lula seja convocado para depor no processo. “Ele e muitos ministros com quem conversei sobre o escândalo do mensalão”, afirmou.






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