quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Roubo de dados da Petrobrás foi espionagem industrial, diz a PF

Delegado diz que ladrões deixaram outros equipamentos no local, o que levou a excluir caso de crime comum






Nicola Pamplona




A Polícia Federal (PF) descartou ontem a hipótese de crime comum no furto de dados sigilosos da Petrobrás, que estavam em computadores e discos rígidos da empresa norte-americana Halliburton. Segundo o superintendente da PF no Rio, Valdinho Jacinto Caetano, os ladrões deixaram outros computadores no local, o que reforça a tese de espionagem industrial.




'Havia basicamente material de escritório e alguns laptops (no contêiner). E se privilegiou o roubo desses (laptops), o que nos leva a descartar a hipótese de roubo comum. Até porque, em roubo comum, se leva o computador inteiro para uso posterior, e não o HD (disco rígido)', argumentou Caetano. Os dois HDs levados foram retirados de computadores que também estavam no contêiner.



Segundo Caetano, um dos trabalhos dos investigadores será apurar quem teria interesse nas informações. 'O que se pode tirar é que alguém tinha interesse em informações e supunha o que tinha ali', comentou.




A polícia ainda não conhece o conteúdo dos dados furtados. Em depoimento no dia seguinte à descoberta do furto, o gerente de Proteção Empresarial da Petrobrás, Luiz Lima Blanc, disse apenas que os equipamentos saíram de uma plataforma de perfuração da Bacia de Santos.




No mercado, suspeita-se que havia dados referentes à descoberta gigante de gás de Júpiter, anunciada no dia 21 de janeiro. A plataforma que descobriu Júpiter concluiu os trabalhos no dia 18, mesmo dia em que a carga deixou a Bacia de Santos.




Os investigadores já tomaram depoimento de nove envolvidos no transporte da carga e esperam ouvir mais 15 nas próximas semanas.



REINCIDENTE




O delegado revelou que há cerca de um ano a Petrobrás foi vítima de ação semelhante e criticou o sistema de segurança da estatal. A empresa mantém a política de não se manifestar a respeito do caso.




'O sistema de segurança para esse material era bastante falho. Não havia controle específico, não havia anteparos suficientes e muita gente tinha acesso a esse tipo de informação', comentou. 'Para um escritório simples, a segurança estava adequada, mas, quando se coloca aí uma informação privilegiada, se torna inadequada.'




Além disso, há informações de que a Petrobrás usa cadeados com chave padrão nas operações desse tipo, para evitar que o trabalho seja prejudicado caso algum funcionário esqueça a chave. 'Parece que havia falha nos cadeados', disse o delegado.




Segundo o superintendente, no furto de um ano atrás os dados não tinham a relevância dos furtados agora e, por isso, o caso não foi levado à PF. A revelação foi feita no depoimento de Blanc. Há também denúncias da Associação de Engenheiros da Petrobrás (Aepet) de furtos de notebooks de funcionários da estatal em Macaé, mas a polícia local diz que assaltos a residências, com furto de equipamentos eletrônicos, são comuns na cidade.




A perícia no contêiner violado ocorreu, segundo o delegado, no dia 2 de fevereiro e foi prejudicada pelos funcionários da Halliburton. Talvez por desconhecimento de normais de perícia, disse Caetano, eles mexeram nos equipamentos restantes, desconfigurando a cena do crime. Mesmo assim, a existência de outros computadores no local definiu a linha de investigações em torno da hipótese de espionagem.




COLABOROU MARCELO AULER



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