terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Oscar dos estrangeiros

A 80.ª edição do prêmio apresentou a inédita combinação de premiar europeus em categorias principais, como as de atores: dois ingleses, uma francesa e um espanhol









Ubiratan Brasil







Los Angeles - Se o ano passado foi dos latinos, o Oscar de 2008 premiou essencialmente os europeus. Basta conferir a lista dos vencedores: um inglês (Daniel Day-Lewis) e uma francesa (Marion Cotillard) como atores principais, e um espanhol (Javier Bardem) e uma inglesa (Tilda Swinton) entre os coadjuvantes. Uma combinação como nunca antes fora feita. Uma nova tendência? As opiniões se dividem.






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“Não acho que seja uma novidade, pois Hollywood foi construída por estrangeiros, faz parte de sua história”, comentou Tilda, vencedora por Conduta de Risco. “E hoje, andando pelos corredores do teatro, você encontra premiados italianos, por exemplo. Não espalhem, mas estamos em todos os cantos.”






Para Day-Lewis, premiado por Sangue Negro, trata-se, de fato, de um fenômeno, mas ele ainda não sabe se localizado ou algo que vai permanecer. “Basta ver a lista dos finalistas nas principais categorias: havia atores americanos defendendo um trabalho excepcional. Assim, não sei se a premiação serve como indicação de uma tendência.”






Javier Bardem, que comemorou o Oscar por Onde os Fracos Não Têm Vez trocando um selinho com a mãe Pilar, credita a premiação pelo trabalho ao longo de sua carreira e não apenas pelo filme dirigido pelos irmãos Ethan e Joel Coen. “Acho que tive papéis melhores, mas aqui foi o fruto de um trabalho conjunto entre mim e os diretores. Não vejo a predominância de um estilo cultural, mas da fusão entre vários.”






Bardem contou que a construção de seu personagem aconteceu aos pedaços, em meio a uma troca de impressões com os irmãos Coen. “Tínhamos um excelente ponto de partida, o livro de Cormac McCarthy”, comentou Joel. “Assim, o primeiro objetivo era fazer jus ao romance, o que implicou a inclusão de temas sombrios.”






Seria essa preferência pela angústia e o suspense outro elemento comum a todos os filmes finalistas? “Talvez seja um desejo do momento”, arriscou Joel. “Sabe, é a primeira vez que me interesso por todos os longas que disputaram o Oscar da categoria. Há, em todos, uma discussão sobre o homem que me atrai pessoalmente.”






“O interesse está provavelmente na forma como esses filmes tratam de assuntos tão profundos”, arriscou Scott Rudin, produtor de Onde os Fracos. “Há uma discussão sobre o lado sombrio da alma humana, mas isso aparece na tela na forma de suspense clássico, aquele que faz prender a respiração.”






Discutir a face obscura do ser humano também valeu o Oscar de melhor filme estrangeiro ao austríaco Stefan Ruzowitzki, diretor de O Falsário. O filme mostra o dilema de prisioneiros de um campo de concentração durante a 2.ª Guerra Mundial: obrigados a confeccionar dinheiro falso que vai alimentar o nazismo, eles têm de escolher entre a manutenção do regime que os oprime ou a morte. “Como neto de simpatizantes do nazismo, senti a necessidade de contar essa história, que pertence não apenas à minha família, mas também à do país. Trata-se de um momento político e social que vai necessitar ainda de diversas revisões”, comentou diretor.






A política, aliás, passou timidamente pela cerimônia do Oscar, embora os Estados Unidos vivam a expectativa de novas eleições presidenciais. O apresentador Jon Stewart, por exemplo, fez uma rápida referência ao candidato democrata Barack Obama (lembrando da semelhança fonética de seu sobrenome com Osama).






Já Tom Hanks, quando apresentava os candidatos a melhor documentário de longa-metragem, ao ler em seu discurso a palavra ‘hope’ (esperança), que é a chave da campanha de Obama, disse: “Esperança, finalmente.” Com isso, entregou seu voto. Os efeitos da greve dos roteiristas e o cuidado de deixar o assunto para o próximo Oscar pouparam, ao menos uma vez, os políticos de serem o centro das brincadeiras.






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