terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Vale ganha fôlego para aquisição

Reajuste de 65% no preço do minério dá à empresa mais poder de fogo nas negociações com a Xstrata







Mônica Ciarelli





O reajuste de 65% no preço do minério fechado entre a Vale e um grupo de siderúrgicas deve garantir à empresa, segundo analistas, um maior poder de fogo nas negociações para a compra da anglo-suíça Xstrata, a quinta maior mineradora do mundo. O reajuste, anunciado oficialmente ontem pela empresa, surpreendeu o mercado, já que as expectativas médias giravam em torno de 35%. Além disso, a Vale conseguiu ainda o feito inédito de estipular aumento diferenciado, de 71%, para o minério fino de Carajás, mais valorizado no mercado.





Em relação à Xstrata, a previsão é que, agora, com a certeza de cofres ainda mais cheios, a companhia brasileira volte à mesa de negociação com uma contraproposta mais polpuda. Na semana passada, segundo o jornal Financial Times, a Glencore teria descartado a oferta informal feita pela Vale por considerá-la muito baixa. “O reajuste foi forte e vai ajudar nas negociações”, previu Pedro Galdi, chefe do departamento de análise do ABN Amro.





O complexo de Carajás, que produz cerca de 90 milhões de toneladas por ano de minério considerado de melhor qualidade, por apresentar maior teor de ferro, está em processo de expansão para 150 milhões de toneladas anuais. Já o Sistema Sul-Sudeste produz aproximadamente 200 milhões de toneladas por ano.




O analista do ABN acredita que, com o reforço de caixa que será gerado pelo aumento dos preços, a Vale ficará em uma posição financeira mais confortável para elevar sua oferta pela Xstrata sem perder a atual classificação de grau de investimento (investment grade).




Continuar no seleto grupo das empresas com baixo risco de crédito é fundamental para a companhia, que já anunciou um investimento de US$ 59 bilhões até 2011. Esses recursos precisam ser financiados a taxas de juros semelhantes às de suas concorrentes internacionais para que a companhia mantenha sua competitividade.




Apesar de alto, Galdi acredita que a Vale poderia ter fechado um reajuste ainda maior, como vêm tentando as mineradoras australianas. No mercado comenta-se que elas estariam propondo um aumento superior a 100%. Além da forte demanda pelo produto, elas alegam que estão mais próximas do mercado asiático e, por isso, o custo do frete é menor.




Segundo o analista, uma das razões para que a Vale tenha concluído a toque de caixa as negociações em torno do preço do minério de ferro este ano seria o interesse na Xstrata. No final do ano passado, o próprio presidente da Vale, Roger Agnelli, admitiu que as negociações este ano iriam demorar. Normalmente, o primeiro acordo é fechado em março.




DIVERSIFICAÇÃO



Galdi lembra que a aquisição da mineradora anglo-suíça seria muito positiva para a Vale por causa da complementaridade das operações. Com a compra, a companhia brasileira, além de liderar o ranking mundial de minério de ferro, passaria também a ser a primeira no segmento de níquel e a quarta em cobre.



Eduardo Roche, do Banco Modal, também acredita que a intenção da companhia brasileira foi garantir logo um reajuste forte. O importante, segundo ele, é que o porcentual deixou de ser uma previsão e passou a ser um dado consolidado. Esse fato permite que a Vale monte sua estratégia ao saber exatamente quanto terá a mais de geração de caixa com a venda de seu minério de ferro.







http://txt.estado.com.br/editorias/2008/02/19/eco-1.93.4.20080219.10.1.xm

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