Acompanhando o desempenho das bolsas mundiais, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em baixa de 1,48%
Agência Estado e Reuters
SÃO PAULO - O chacoalhão no mercado financeiro continuou nesta sexta-feira. Acompanhando o desempenho das bolsas mundiais, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em baixa de 1,48%. O volume financeiro ficou em R$ 5,3 bilhões, acima da média diária do ano, de R$ 4,1 bilhões. Na semana, o Ibovespa subiu 0,4%. Em Nova York, depois da intervenção recorde do banco central norte-americano, o índice Dow Jones reduziu a queda, mas ainda fechou em baixa de 0,23%. A Nasdaq - bolsa que negocia ações do setor de tecnologia e internet - fechou com queda de 0,45%.
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As bolsas asiáticas fecharam em queda. Na Austrália, a baixa do mercado de ações foi a maior em seis anos, de 3,7%. No Brasil, o dólar comercial fechou no nível mais alto desde junho cotado a R$ 1,9520, uma alta de 1,30%. Na semana, o dólar acumulou valorização de 2,63%.
Bancos centrais de diversos países voltaram a atuar forte nos mercados nesta Sexta-feira. O objetivo é garantir a oferta de dinheiro. O Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos (Fed), bateu recorde de colocação de moeda. Foram três atuações que totalizaram US$ 38 bilhões.
Já o Banco Central Europeu BCE colocou 61,05 bilhões de euros no mercado, menos que a cifra recorde da véspera. Outras intervenções vieram do Banco do Canadá, o banco central suíço, o Banco do Japão e o BC australiano. No total, os bancos centrais colocaram pelo menos US$ 323,3 bilhões no mercado nas últimas 48 horas. Mesmo assim, foram dois dias de forte queda nas bolsas em todo o mundo.
A atuação da autoridade monetária dos países se dá pela troca de papéis em poder dos investidores por recursos. Ou seja, um banco que está precisando de liquidez (moeda) vende os títulos que tem em carteira para o banco central de seu país e consegue recursos para honrar os resgates de seus clientes.
Nas três intervenções, o Fed aceitou títulos de agências e hipotecas como garantia. Em todas elas, a oferta de recursos pelo banco central americano foi sempre menor que a demanda dos investidores.
A ação dos bancos centrais americano e europeu desta sexta-feira ocorreu depois que os bancos centrais da Ásia juntaram-se a uma campanha para garantir liquidez aos mercados, abatidos por problemas em bancos e fundos expostos a investimentos de risco ligados ao setor hipotecário norte-americano.
O Fed disse que está pronto para prover recursos emergenciais aos bancos se ainda for necessário após a injeção de US$ 35 bilhões (valor alcançado após a segunda intervenção). Em um comunicado, o Fed informou que "está provendo liquidez para permitir o funcionamento ordenado dos mercados financeiros". Tais comunicados são incomuns e o última havia sido emitido após os ataques de 11 de setembro de 2001.
Já o banco central suíço ofereceu dinheiro a taxas abaixo do mercado pelo segundo dia consecutivo. O Banco do Japão e o BC australiano colocaram mais dinheiro que de costume no mercado para evitar que as taxas de curto prazo saltassem, embora em escala bem menor que o BCE.
No mercado de câmbio, o euro caiu para o menor nível em três meses frente ao iene.
"A atuação dos bancos centrais acabou sinalizando para o mercado que tem um problema sério e que está ligado dessa vez à liquidez. Se você tem uma redução de liqudez, você pode afetar a disponibilidade de recursos dos consumidores lá na frente e afetar a economia como um todo", explicou Kelly Trentin, analista da corretora SLW.
Entenda a crise
O mercado imobiliário americano tem um segmento que oferece crédito a pessoas sem renda comprovada e que têm um histórico de inadimplência. É o chamado mercado subprime. No ano passado, nos EUA, com o fim da bolha dos imóveis, os preços destes ativos caíram e houve uma desaceleração da oferta de crédito e de imóveis. Além disso, os juros chegaram ao patamar máximo, elevando o valor das prestações. O resultado disso foi a inadimplência.
Estas empresas que ofereciam crédito no mercado subprime empacotavam estes financiamentos e vendiam a outros investidores. Assim, elas recebiam de volta o valor emprestado e os investidores ficariam com o valor da prestação das hipotecas mais os juros. Contudo, o calote das pessoas que tomaram crédito provocou perdas para estes investidores.
Para compensar estas perdas, eles saíram de mercados mais arriscados (ações) e migraram para ativos de risco menor (títulos do governo americano). Além disso, a aversão ao risco aumenta com as incertezas sobre a extensão desta crise - quanto em crédito imobiliário está na mão de investidores, e quem são estes investidores. O resultado aqui é a queda das ações de empresas.
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