domingo, 9 de setembro de 2007

Papa critica 'teologia obcecada com ciência'


'Ânsia em ter rigorosidade científica' pode 'abalar a fé', diz Papa. Ele também disse que todos os cristãos devem ao menos tentar rezar.
Da EFE





Papa cumprimenta crianças no caminho para a missa na Catedral de São Estevão, em Viena (Foto: Heinz-Peter Bader/Reuters)





O Papa Bento XVI visitou neste domingo (9) o mosteiro cisterciense de Heiligenkreuz, nos arredores de Viena, no último dia de sua viagem à Áustria. Durante a visita de hoje, o Pontífice aproveitou para ressaltar a importância da prece, e disse que todos os cristãos devem rezar, "ou pelo menos tentar fazê-lo". Bento XVI alertou ainda que "quando a teologia tem obsessão em ser reconhecida como uma atividade científica rigorosa, pode perder o sentido da fé".






O mosteiro, situado a 30 quilômetros da capital austríaca, foi fundado em 1135 por Leopoldo III, a pedido de seu filho Ottone que tinha entrado na ordem. Atualmente, Heiligenkreuz acolhe 80 monges, além de uma faculdade de teologia com 100 alunos.






Assistiram ao encontro com o Papa, entre outros, os professores e alunos da faculdade, diante dos quais Bento XVI manifestou "que com a ânsia em ter uma rigorosidade científica reconhecida no sentido moderno, a teologia pode perder o sentido da fé".






"Como uma liturgia que esquece o olhar em direção a Deus, uma teologia que perde o sentido da fé deixa de ser teologia e acaba reduzindo-se a uma série de disciplinas mais ou menos relacionadas entre elas", disse o Papa, que também é teólogo.






Bento XVI disse também que, para uma chamada ao sacerdócio ser mantida durante toda a vida, é necessário haver uma formação que integre "fé e razão, coração e mente, vida e pensamento".





O Pontífice explicou que, onde a dimensão intelectual se descuida, "surge muito facilmente uma forma de obsessão que vive quase exclusivamente de emoções e estados de espírito que não são mantidos durante toda a vida".






"E onde a dimensão espiritual se descuida, é criado um racionalismo rarefeito, frio, que jamais pode levar a uma entusiasmada entrega a Deus", acrescentou o Papa. Bento XVI destacou o trabalho monástico ao longo da história, que disse "ter como base a adoração". Antes disso, falou ainda que Deus merece ser adorado, e que um mosteiro é um lugar de força espiritual.






O mosteiro de Heiligenkreuz é considerado o berço da ordem cisterciense na região da Baixa Áustria (nordeste do país). Em 1683, o mosteiro foi destruído pelos ataques otomanos à Viena, e sua biblioteca foi queimada. Depois de reconstruído, ele ganhou algumas partes em estilo barroco. Durante o nazismo, entre 1938 e 1945, o local foi desapropriado, e muitos monges foram presos.






Após esta visita, o Papa se reuniu com representantes do voluntariado, muito ativo na Áustria, no último ato de sua viagem de três dias ao país. O Pontífice agradeceu aos voluntários pelo seu trabalho, e disse que o amor ao próximo é intransferível, e que o Estado e a política não podem substituí-lo.






"Por isso, vocês, voluntários, não são um 'remendo' na rede social, mas pessoas que contribuem para a face mais humana e cristã de nossa sociedade", declarou o Papa. Bento XVI reafirmou as exigências pela justiça, pela defesa da vida e pela preservação da natureza.






O Papa disse que o amor é gratuito e que não é exercido tendo outros objetivos em vista. Além disso, falou que o bem comum e a sociedade "não poderiam, não podem e não poderão" perdurar sem o compromisso dos voluntários.






O Pontífice afirmou também que o homem é muito mais que um simples fator para ser avaliado segundo critérios econômicos. Neste domingo, antes da visita ao mosteiro de Heiligenkreuz, o Papa celebrou uma missa na Catedral de São Estevão, em Viena, que foi acompanhada por 15 mil pessoas. A maioria delas estava fora do templo, sob uma incessante chuva.






Durante a homilia, Bento XVI reivindicou o domingo como o "dia do Senhor", e denunciou que este dia se transformou em um mero "fim de semana" na sociedade ocidental. Acrescentou ainda que, embora o tempo livre seja necessário, "se não tiver um foco, que é o encontro com Deus, acaba sendo um tempo perdido".


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