GIOVANA GIRARDIColaboração para a Folha de S.Paulo
Uma nova pista pode ajudar a solucionar o mistério do sumiço das abelhas, que vem dando um nó na cabeça de apicultores e biólogos mundo afora. Um novo vírus foi considerado o melhor candidato a assassino.
Pesquisadores americanos chegaram a esse resultado ao comparar amostras de colméias doentes (que perderam rapidamente suas abelhas operárias) de vários pontos dos EUA com amostras saudáveis.
Eles identificaram cinco grandes grupos de bactérias, quatro linhagens de fungos e sete tipos de vírus. Mas apenas um deles estava sempre associado ao desaparecimento da Apis mellifera (ou abelha européia) naquele país: o vírus israelense da paralisia aguda (IAPV, na sigla em inglês).
Divulgação/Science
Pesquisadores encontraram nova pista sobre
o sumiço em massa das abelhas no mundo
"Se é exatamente um agente causador ou só um marcador muito bom da doença é a próxima questão que precisamos tentar responder", afirmou Diana Cox-Foster, da Universidade Estadual da Pensilvânia. A entomóloga é líder do estudo publicado no site da revista científica americana "Science" (http://www.scienceexpress.org/).
Os demais participantes da pesquisa procuraram ressaltar, em entrevista coletiva, que a descoberta não é definitiva e que o problema ainda não está resolvido. O próximo passo do grupo agora é infectar colônias saudáveis com o IAPV para ver se elas entram em colapso.
Os cientistas suspeitam ainda que a fonte do vírus possa ser a Austrália, visto que os Estados Unidos passaram a importar grandes quantidades de abelhas daquele país desde 2005. Para testar, eles analisaram uma amostra supostamente saudável de abelha de lá e encontraram sinais do IAPV.
Crime sem corpo
O problema, que recebeu o nome de desordem do colapso das colônias (ou CCD), foi observado inicialmente na Europa, mas foi nos EUA que ocorreram os maiores estragos. Desde o final do ano passado, mais da metade dos Estados do país observou uma queda abrupta na população de abelhas. Produtores perderam de 50% a 90% de suas colônias.
O fenômeno tem deixado os biólogos em pânico: afinal, as abelhas são polinizadores, fundamentais para a agricultura (Albert Einstein dizia que, se elas desaparecessem, os humanos sumiriam em cinco anos).
O inseto é conhecido por sua vulnerabilidade, tanto que não chega a ser incomum a morte de uma colméia inteira, e os apicultores estão acostumados a lidar com isso. Mas o curioso no caso da CCD, além da rapidez com que ela se espalha e da sua virulência, é que esse é um crime sem cadáver.
Não são achadas abelhas mortas dentro das colméias ou nas proximidades. Elas literalmente desaparecem. Saem do ninho para coletar néctar e pólem e não voltam mais. No final do processo costumam restar somente a rainha e algumas guardiãs, mas todas acabam morrendo pela falta de comida.
A descoberta do vírus, no entanto, ainda não esclarece por que isso ocorre. "É possível que a infecção altere a habilidade das abelhas de encontrar o caminho de casa, mas não podemos afirmar com certeza", disse à Folha Ian Lipkin, do Centro de Infecção e Imunidade da Universidade Columbia e um dos autores do estudo.
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