Roriz teve sucessivas vitórias nas urnas, mas denúncias o acompanham há tempos
Clarissa Oliveira, do Estadão
Clarissa Oliveira, do Estadão
SÃO PAULO - Ao renunciar ao mandato assim que o Senado deu sinal verde para a abertura de investigação formal contra ele, o peemedebista Joaquim Roriz (DF) seguiu o exemplo de outros senadores que optaram por abrir mão do cargo, em vez de responder a um processo no Conselho de Ética.
O escândalo da adulteração do painel eletrônico do Senado, em 2001, levou dois senadores a adotarem essa estratégia, para escapar da cassação e do risco de perderem os direitos políticos. O primeiro foi José Roberto Arruda (DEM-DF), que na época integrava os quadros do PSDB.
Em seguida, foi a vez de Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), avisando que recuperaria o seu mandato nas urnas, onde se submeteria “ao juízo daqueles que realmente importam”. ACM voltou ao Senado, Arruda hoje é governador.
Desgaste semelhante ao de Roriz ocorreu com o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), também em 2001. O colega de partido preferiu renunciar a enfrentar um processo no Conselho de Ética, por acusação de envolvimento com desvios no Banco Estadual do Pará (Banpará).
Na época, Jader dizia que a escolha tinha por objetivo acabar com um “linchamento” iniciado seis meses antes. Ele hoje é deputado, aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Urnas
Eleito em 2006 para o Senado com 657.217 votos, depois de acumular quatro passagens pelo governo do Distrito Federal e sem jamais ter amargado uma derrota nas urnas, Joaquim Roriz passou a ter poucos motivos para comemorar seu aniversário de 71 anos, no próximo dia 4 de agosto.
O recebimento de cheque de R$ 2,2 milhões do empresário Nenê Constantino, dono da companhia aérea Gol - valor cujo destino não conseguiu explicar aos colegas - abalou uma força política que parecia resistir eleição após eleição.
O peemedebista é acusado de negociar a partilha dos R$ 2,2 milhões com o ex-presidente do BRB, Tarcísio Franklin de Moura, com quem foi flagrado em escutas telefônicas, em março, discutindo a entrega e a partilha desse dinheiro.
Em sua estréia, em 1961, Roriz foi o vereador mais votado em Luziânia (GO), sua cidade natal, e logo ficou conhecido pelo discurso destemperado, com forte apelo emocional e muitas referências a Deus. Foi deputado estadual e federal, vice-governador e prefeito de Goiânia, de onde sairia em 1988 para ocupar pela primeira vez a vaga de governador, por indicação do então presidente José Sarney.
Roriz retornou ao cargo três vezes pelo voto popular - em 1990, 1998 e 2002 -, além de ter sido ministro da Agricultura do governo Collor durante o intervalo entre um mandato e outro.
Muitas de suas vitórias ocorreram com base na bandeira do antipetismo. Mas Roriz foi, na verdade, um dos fundadores do PT em Goiás. Deixou a sigla dizendo-se vítima de um preconceito contra empresários, voltou para o PMDB e passou a se referir ao PT como o “lado dos vermelhos”, um partido de gente “que só tem ódio no coração”.
De um lado, Roriz pode se vangloriar das sucessivas vitórias, mas, de outro, denúncias na Justiça o acompanham há algum tempo. Seu nome já foi relacionado a casos de grilagem de terras, improbidade administrativa, falsidade ideológica e uso indevido da máquina. Seus discursos desmedidos também já o colocaram no alvo dos tribunais. No caso mais polêmico, ele foi acusado de racismo depois de chamar de “crioulo petista” um senhor que protestava durante um de seus discursos.
Roriz acumulou um patrimônio de R$ 4,48 milhões, conforme declaração apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na última eleição. A lista de bens inclui 6.227 cabeças de gado avaliadas em R$ 2,85 milhões. Mas o interesse pela pecuária é relativamente recente. Em 2002, nenhuma cabeça de gado constava em seu patrimônio de R$ 5,59 milhões declarado à Justiça Eleitoral.
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