quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Milhares protestam no norte do Iraque contra decisão da Turquia


Da Folha Online


Milhares de curdos foram nesta quinta-feira às ruas da cidade de Dahuk, no norte do Iraque, para protestar contra a decisão do Parlamento turco que autorizou incursões militares no Iraque para combater os separatistas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).


Segundo o governo turco, os rebeldes se escondem no norte do Iraque, onde preparam ataques terroristas realizados na Turquia.


A votação na quarta-feira eliminou o último obstáculo legal a uma ofensiva, mas não há sinais de uma ação iminente. Tanto os EUA e o Iraque pedem à Turquia que não ataque o país.


Mais de 5.000 homens e mulheres --políticos e cidadãos comuns-- foram às ruas e seguiram em direção aos escritórios das Nações Unidas (ONU) em Dahuk, cidade curda próxima à fronteira com a Turquia. Dahuk fica a cerca de 430 quilômetros ao noroeste de Bagdá.


A multidão agitava bandeiras da região autônoma do Curdistão e entoava hinos e músicas louvando a nacionalidade curda. Os manifestantes entregaram aos chefes dos escritórios da ONU um documento pedindo à organização que impeça qualquer atividade turca no território iraquiano.


Líderes curdos já alertaram que qualquer incursão turca no Iraque irá ameaçar a relativa estabilidade da região e pediram a Ancara que procure meio pacíficos para combater a violência dos rebeldes separatistas.


"Não à ação militar, sim ao diálogo", gritavam os manifestantes.


Opinião popular


Evan Dosky, estudante universitária de 26 anos, disse à agência de notícias Associated Press que os turcos devem continuar combatendo os separatistas curdos no seu próprio território.


"Nós, no nosso país, não fizemos nada contra a vizinha Turquia e não permitiremos que nossa dignidade seja violada", disse Dosky.


Hasso Slevkani, 65, vestindo roupas curdas tradicionais e andando com uma bengala, pediu aos partidos turcos que se unam em face à ameaça.


Slevkani também se mostrou preocupado que os turcos não estejam apenas visando os rebeldes do PKK, mas também queiram acabar com a paz relativa e o sucesso econômico da região, para evitar que o sentimento separatista da minoria curda na Turquia se fortaleça.


"Eles não estão caçando o PKK", afirmou Slevkani. "Eles querem diminuir a dignidade do governo do Curdistão."


Milhares de crianças de uniforme e outros manifestantes também tomaram as ruas da cidade curda de Irbil, a 350 quilômetros ao norte de Bagdá.
Diálogo


Os líderes turcos dizem preferir outra solução à questão dos separatistas que não seja uma ação militar além de suas fronteiras. Outras operações realizadas no Iraque falharam em derrotar os rebeldes. Mas o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, também alertou que a Turquia fará o necessário para derrotar os separatistas.


Os rebeldes curdos têm lutado por autonomia no sudoeste turco desde 1984, em um conflito que já deixou mais de 30 mil mortos. A opinião pública tem feito forte pressão sob o governo devido aos ataques recentes dos separatistas, que deixaram dezenas de mortos nas últimas semanas.


Há também a impressão popular de que os EUA falharam em apoiar a Turquia em sua luta contra o PKK.


A região autônoma do Curdistão iraquiano tem um alto grau de independência em relação ao governo central de Bagdá, e conta com seus próprios hino, bandeira, língua e moeda.


Em Bagdá, o governo do primeiro-ministro iraquiano, Nouri al Maliki, mantém silêncio, aparentemente à espera do resultado dos esforços de negociação de uma delegação diplomática de alto nível em Ancara.


Curdistão


Parte dos territórios da Turquia e do Iraque abrangem uma área chamada de Curdistão, de cerca de 530 mil km2, que também engloba partes da Síria, Azerbaijão e Armênia. No Curdistão, a maioria da população é curda --grupo étnico não-árabe, de cerca de 20 milhões.


Os curdos se consideram o maior grupo étnico sem Estado do mundo e desde 1984, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão reivindica um território autônomo. A Turquia é um dos países no qual o PKK mais atua e os turcos afirmam que os rebeldes se escondem no norte do Iraque, de maioria curda.


Os turcos afirmam que integrantes do PKK realizam atentados na Turquia e cruzam a fronteira para a região curda do Iraque. A Turquia acusa as autoridades iraquianas de tolerar as atividades do PKK e divulga que cerca de 3.000 rebeldes se escondem na região.


O PKK é considerado uma organização terrorista pelos EUA e União Européia.


O governo turco culpa os rebeldes pela morte de mais de 30 mil pessoas desde que o grupo começou sua campanha armada.

Nenhum comentário:

Google