Da Folha Online
O premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou hoje que seu país não será influenciado pelos Estados Unidos para decidir se irá lançar uma ampla incursão militar no norte do Iraque para deter a ação de rebeldes do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão).
"Os Estados Unidos podem não querer que realizemos uma operação que cruze a fronteira. Mas somos que iremos decidir se ela ocorrerá ou não", afirmou Erdogan.
"Como aliado estratégico da Turquia, os EUA têm de agir ao nosso lado. Nós os apoiamos no Afeganistão. Nós daremos passos contra o terrorismo, em território nacional e internacional".
As declarações foram dadas pelo premiê em coletiva de imprensa durante visita à Romênia.
Partidos nacionalistas de oposição acusam Erdogan e seu governo de ser "complacente demais" com as ações terroristas, e de seguir a orientações dos EUA para não lançar uma incursão militar no norte do Iraque. Os Estados Unidos e o Iraque temem que uma ampla ação militar na região desestabilize a área, considerada a única estável do país.
O governo turco destacou cerca de 100 mil soldados, além de tanques, caças F-16, helicópteros de guerra e artilharia pesada na fronteira, como preparação para uma incursão.
Na terça-feira (23), o país alertou o Iraque de que uma incursão na região é "iminente", e exigiu que o governo de Bagdá tome medidas concretas contra a ação dos rebeldes no país.
Erdogan está sob forte pressão para tomar medidas rígidas contra os curdos, depois que confrontos entre rebeldes e o Exército mataram 12 soldados turcos no último domingo (21).
Nesta quarta-feira, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, disse ao Comitê de Relações Exteriores do Congresso que disse a Erdogan que considerava a situação "grave".
"O Iraque não deve ser um local de onde o terrorismo possa atingir a Turquia", disse ela.
Sem paciência
Também nesta quinta-feira, o presidente turco, Abdullah Gul, afirmou que a paciência com o PKK "está acabando" e que pretende erradicar as bases rebeldes no norte do Iraque.
"Respeitamos a integridade territorial e a unidade do Iraque, mas nossa paciência está se esgotando, e não toleraremos que o território iraquiano seja utilizado para atividades terroristas", declarou Gul durante uma reunião em Ancara dos países do Mar Negro.
"Estamos totalmente decididos a adotar as medidas necessárias para acabar com esta ameaça", acrescentou.
As declarações de Gul foram feitas no momento em que Ancara aguarda a chegada de uma delegação iraquiana para negociar com as autoridades turcas sobre a atitude a ser tomada ante o PKK. O Parlamento turco autorizou, na semana passada, uma intervenção armada no norte do Iraque para neutralizar os rebeldes, que utilizam a região como retaguarda para suas operações contra as forças de segurança no sudeste da Turquia.
Promessa
O governo iraquiano prometeu ontem combater a ação rebelde em seu território. No entanto, a Turquia se diz cética em relação à capacidade de Bagdá em conter a ação rebelde.
O ministro turco de Relações Exteriores, Ali Babacan, voltou na terça-feira (23) de Bagdá e afirmou: "Aguardamos medidas concretas [do Iraque], caso contrário, a visita não terá sentido".
Após a visita, o premiê iraquiano, Nouri al Maliki ordenou o fechamento de todos os escritórios do PKK no Iraque, dizendo que o grupo está proibido de operar no país.
"Precisamos de mais do que palavras", disse Babacan. "É preciso impedir que o PKK use o solo iraquiano, dar a todas as atividades do PKK no Iraque e fechar as suas bases. Os líderes do grupo também devem ser detidos e extraditados para a Turquia'.
Durante os funerais de 12 soldados turcos mortos por rebeldes no último final de semana, milhares de pessoas gritavam slogans em defesa de uma incursão militar.
Curdistão
O governo regional do Curdistão iraquiano negou nesta quinta-feira a existência de escritórios de rebeldes em seu território. "Não há escritórios do PKK na região curda", afirmou o porta-voz do governo regional, Jamal Abdallah.
"Se o premiê Maliki sabe onde estão estes escritórios, ele mesmo que os feche", acrescentou o porta-voz, em uma referência ao compromisso do premiê iraquiano de acabar com as áreas ocupadas pelo partido rebelde que combate o governo da Turquia.
Ontem, o governo e os partidos políticos da região autônoma curda do Iraque pediram que o PKK renuncie à luta armada e passe a defender suas reivindicações através do diálogo.
"Pedimos que o grupo abandone a violência e a luta armada como modo de atuação. Os problemas atuais deveriam ser resolvidos através de métodos políticos e diplomáticos", disseram os políticos curdos, em comunicado divulgado no site do governo do Curdistão.
"Condenamos todas as ações terroristas de qualquer parte, porque o povo do Curdistão é uma vítima do terrorismo. Sempre lutamos em nome da paz, da democracia, do desenvolvimento e da estabilidade de nosso povo e de toda a região", acrescenta o texto.
A Turquia acusa os curdos iraquianos de dar cobertura aos guerrilheiros do PKK.
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