domingo, 7 de outubro de 2007

Regime de Mianmar ignora críticas internacionais e mantém prisões


MIGUEL ROVIRAda Efe, em Bancoc


A Junta Militar de Mianmar (antiga Birmânia) continua com as detenções de pessoas relacionadas com os protestos que há mais de uma semana foram reprimidos a tiros, o que gerou uma série de críticas por parte de comunidade internacional.


Setenta e oito pessoas, que as autoridades militares chamaram de "cúmplices" dos manifestantes, foram presas durante várias operações feitas no sábado em Yangun, maior cidade do país e palco das grandes manifestações lideradas por monges budistas.


Estas novas detenções ocorreram enquanto a Junta Militar ignora as críticas internacionais por causa da violenta repressão para sufocar os protestos, e a ofensiva diplomática dentro da ONU (Organização das Nações Unidas) que Estados Unidos, Reino Unido e França tentam iniciar.


Segundo o jornal "Nova Luz de Myanmar", órgão de propaganda do regime presidido pelo general Than Shwe, seis dos 78 presos foram libertados após interrogatório dos agentes dos corpos de segurança.


As autoridades sustentam que cerca de 2.700 pessoas, entre elas 573 monges de mosteiros de Yangun, foram detidas desde que, em 28 de setembro, empreenderam uma ampla operação para encontrar os mianmarenses filmados ou vistos durante as manifestações.


No entanto, grupos anti-governamentais e diversos países ocidentais com representação diplomática em Mianmar estimam que os presos sejam mais de 6 mil.


O número oficial de detidos e o tratamento que recebem não foram assuntos examinados pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, organismo com acesso proibido pela Junta Militar às prisões e centros de detenção montados em recintos militares e edifícios governamentais.


O governo mianmarense afirma que pôs em liberdade 1.600 pessoas das quase 2.700 presas, e garante que dez morreram durante as operações dos soldados e da Polícia contra os manifestantes. Segundo a Polícia, nas operações realizadas nos mosteiros foram encontradas facas, armas e munição.


"Caso [os monges] violem as leis, devem ser empreendidas ações contra eles", advertiu o jornal mianmarense.


Caminhões do Exército seguiam neste domingo estacionados em torno dos pagodes de Shwedagon e de Sule, embora a presença de soldados seja menor nas ruas de Yangun e as barricadas tenham sido retiradas.


A dissidência mianmarense estima que o número de mortos chegue a quase 200, e segundo relatos de testemunhas, acreditam que muitos cadáveres foram incinerados no necrotério municipal de Yangun após serem retirados caminhões militares da prisão de segurança máxima de Insein, nos arredores da cidade.


As batidas policiais continuam também depois da anunciada oferta do general Than Shwe de conversas com a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, líder da Liga Nacional pela Democracia (LND), o único partido de oposição que resiste à pressão do regime.


Suu Kyi, em prisão domiciliar desde junho de 2003, passou em cativeiro quase 12 dos últimos 18 anos.


Ao mesmo tempo em que continuam com a perseguição aos mianmarenses para acabar com qualquer oposição ao regime, as autoridades promovem concentrações e comícios de apoio à Junta Militar.


Segundo denunciaram alguns residentes em Yangun, cada família tem a obrigação de enviar pelo menos duas pessoas a estes atos, preparados pela Organização para a Solidariedade e a União Nacional, que responde às ordens do Exército.


A última prisão de Suu Kyi aconteceu depois que centenas de membros do grupo paramilitar pró-governamental atacaram o comboio de veículos nos quais viajava com sua comitiva, durante uma viagem política pelo norte de Mianmar.


Com Suu Kyi à frente, a LND venceu por arrasadora maioria nas eleições legislativas realizadas em 1990, cujos resultados nunca foram reconhecidos pelos generais que governam o país asiático desde 1962.

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