segunda-feira, 4 de junho de 2007

Lula e Chávez voltam a se desentender

NOVA DÉLI, Índia ? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender o Congresso brasileiro, ontem, contra as críticas do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que chamou o Legislativo do Brasil de ?papagaio dos Estados Unidos?, depois que senadores condenaram o fechamento do canal de TV venezuelano RCTV.

A declaração de Lula foi uma resposta ao fato de Chávez ter dito que apenas reagira a uma grosseria do Senado. ?Não foi uma grosseria. Não considero que foi uma grosseria. A nota do Senado foi um pedido de compreensão apenas?, disse Lula, que está em viagem à Índia.

O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, classificou de ?inadequado? o tom usado pelo presidente Hugo Chávez ao se referir ao Congresso.

Segundo Marco Aurélio, o tom da reação dos senadores e deputados brasileiros ao ataque de Chávez não foi ofensivo. Ele deixou claro, porém, que o governo não quer aumentar a polêmica com o governo da Venezuela.

?Não estamos interessados em esquentar esse assunto. O presidente Lula, desde o começo, orientou que não se deve opinar sobre questões internas da Venezuela?, disse Marco Aurélio, que acompanha o presidente na viagem à Índia.

?Os interesses políticos e econômicos bilaterais e os projetos de integração da América do Sul e de ampliação do Mercosul são importantes demais e justificam a decisão do Brasil de apaziguar sua relação com a Venezuela?, completou.

As atividades da RCTV, cuja linha editorial era claramente de oposição ao governo venezuelano, foram encerradas no último dia 28 por ordem de Chávez.

Na quarta-feira passada, o Senado brasileiro aprovou uma moção pedindo que o governo venezuelano revisse a decisão, o que levou Chávez, em entrevista a uma emissora de TV, a enviar ?pêsames? ao povo do Brasil por contar com um Congresso que ?repete como um papagaio? as posições dos EUA.

Também aconselhou os parlamentares brasileiros a se ocupar ?dos problemas internos?. ?Que triste para o povo brasileiro!?, declarara.

No dia seguinte, de Londres, Lula revidou: em nota oficial, divulgada pelo Itamaraty, o presidente expressou seu ?repúdio? às declarações de Chávez, qualificadas como ?manifestações que (põem) em questão a independência, a dignidade e os princípios democráticos? das instituições brasileiras.

O general Júlio García Montoya, embaixador da Venezuela em Brasília, foi convocado ao Itamaraty para dar explicações oficiais sobre as declarações de Chávez. Ontem, Chávez voltou à carga.

?O Congresso do Brasil emitiu um comunicado grosseiro, que me obrigou a respondê-lo. Não aceitamos a ingerência de ninguém em assuntos internos?, afirmou, em uma manifestação de apoio à decisão de fechar a RCTV.

Morde e assopra Apesar de ter classificado como ?inadequado? o tom usado por Chávez, o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, saiu ontem em defesa do regime venezuelano.

Em entrevista coletiva concedida na capital indiana, Garcia afirmou que, ao rejeitar a prorrogação da concessão para a rádio Caracas de Televisão (RCTV), ?Chávez não fez nada de ilegal? nem violou os princípios democráticos de defesa da liberdade de expressão.

?Não julgamos que tenha sido violada nenhuma regra democrática. Andei não poucas vezes pela Venezuela. Em raros países eu vi a imprensa falar com tanta liberdade quanto na Venezuela?, afirmou o assessor especial da Presidência.

?Constatação: todas as vezes que estive lá eu vi a imprensa falar cobras e lagartos (de Chávez)?, insistiu, ao relatar que os canais de televisão anunciavam manifestações contra Chávez até mesmo durante as populares novelas, por meio de legendas. (Agência O Globo e Agência Estado)

?Distância não pode ser problema com Índia?

SÃO PAULO ? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a distância entre o Brasil e a Índia não pode ser um problema para as relações comerciais entre os dois países.

?Se nós levarmos em conta o tamanho da Índia e o tamanho do Brasil e o potencial de crescimento dos dois países, eu penso que é uma meta possível de ser alcançada, sobretudo se nós despertarmos tanto nos empresários indianos quanto nos empresários brasileiros a idéia de que a distância não pode ser um problema entre Brasil e Índia?, afirmou Lula, em Nova Déli, capital da Índia.

O presidente chegou ontem à capital indiana para uma visita de três dias. À noite, estava previsto um jantar privado com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, na residência oficial.

Em entrevista a jornalistas brasileiros, o presidente ressaltou que o Brasil tem potencial e ?dinâmica econômica? e que o crescimento das exportações para a Índia depende muito da relação que está sendo construída.

?Nós já evoluímos muito. Nos últimos anos, nós praticamente dobramos as exportações, e é possível dobrar ainda mais a balança comercial. E eu estou convencido não apenas das exportações, mas da parceria que pode ser feita entre indústrias indianas e brasileiras?, disse.
Questionado sobre o motivo da visita, se tinha caráter político ou se para explorar a relação comercial, Lula respondeu que era um misto dos dois.

?Primeiro, ela (a visita) tem um fundo comercial muito grande, depois ela tem um interesse político, porque a Índia é considerada a nossa parceira estratégica, terceiro porque a Índia é um parceiro importante nas discussões da OMC?, afirmou o presidente, ao lembrar que a Índia e o Brasil têm trabalhado juntos.

?Nós temos problemas similares, temos virtudes similares, portanto, com um bom entendimento entre o governo da Índia e o governo do Brasil, entre os empresários brasileiros e empresários da Índia, eu acho que saem ganhando os dois países?, explicou. (Folhapress)

Empresários acreditam em bons negócios com indianos
JEANETTE SANTOS

Cachaça, futebol, logística, tecnologia aérea espacial e da informação são alguns dos temas que estarão na pauta do grupo de empresários brasileiros que integra a Missão Empresarial Brasil Índia, na viagem que o presidente Lula faz a Nova Déli.

O grupo de 116 empresários deverá permanecer no país até o dia 8 na expectativa de iniciar ou dar continuidade a negócios.

?O momento é muito bom. Existe um interesse mútuo de cooperação e contamos como pano de fundo com um apoio institucional muito grande?, comentou ontem o vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil Índia, Leonardo Ananda Gomes.

Os indianos, segundo ele, adotaram uma política de troca mais agressiva com o mercado exterior e, apesar das particularidades da cultura oriental, estão abertos aos produtos brasileiros. ?Eles adoram futebol, é a segunda paixão nacional, que só perde para o críquete?, comentou.

O sonho do Brasil em disputar a Copa do Mundo de 2014 levou empresários do futebol a integrar a comitiva presidencial. Um acordo com o Cruzeiro Esporte Clube pode trazer atletas indianos a treinar na Toca da Raposa.

Com a produção voltada para a exportação, a empresa Cachaça Diva, de Divinópolis, também está confiante em ingressar no mercado oriental. ?Eles vêem o Brasil como um país exótico, com um olhar curioso e não pejorativo?, entende Carolina Arboe, diretora da empresa.

Depois de um ano de negociações e ajustes ? ela participou da primeira missão ao país, realizada em setembro do ano passado ?, Carolina espera concluir a transação e começar a exportar o destilado.

?O mercado consumidor é formado pelas classes A e B, uma parcela da população bastante ocidentalizada e extremamente aberta à novidade e consumista?, disse.

Ainda surpresa com o convite, a diretora da Al Nutri Alimentos, Gisela Gomes Cardoso, viaja otimista com a perspectiva de ampliar seu mercado para o outro lado do mundo.

Detentora, entre outras marcas, da Pink, conhecida internamente pela produção de grãos e bebidas lácteas, Gisela levará na bagagem, entre outros produtos, o feijão em pó enriquecido.

De olho na possibilidade de empresas da Índia se instalarem por aqui, o prefeito de Nova Lima, Carlos Roberto Rodrigues (PT), é o único executivo municipal a integrar a comitiva. Ele teria a intenção de apresentar a cidade como opção para futuros investimentos.

Relação de rivalidade na fabricação de aço
FREDERICO DAMATO

A siderurgia indiana estreou no mercado brasileiro no ano passado, quando a Mittal Steel adquiriu o seu maior rival, a luxemburguesa Arcelor, até então o segundo maior fabricante de aço do mundo.

O negócio significou cifras de 27 bilhões de euros, que envolveu a aquisição dos ativos da Arcelor Brasil, formados por Belgo Mineira, Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e Vega do Sul, além da Acesita, empresa vinculada diretamente à matriz européia. Índia e Brasil sempre duelaram posições no ranking dos maiores fabricantes mundiais de aço.

Recentemente, os indianos tiraram o Brasil da oitava posição, em função dos fortes investimentos em expansão. A queda-de-braço do ranking de produção extrapola para as siderúrgicas dos dois países.

No final de janeiro a indiana Tata Steel arrematou a siderúrgica Corus por US$ 12 bilhões, tirando do páreo a Companhia Siderúrgica Nacional (CNS), que há meses namorava o conglomerado holandês.

Mas Brasil e Índia não são apenas rivais. Tata Motors e Fiat anunciaram acordo para fabricar picapes na unidade da Fiat em Córdoba, na Argentina. Existem rumores que o acordo poderá se estender para Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde a Fiat está instalada.
No ano passado as duas montadoras costuraram uma parceria na Índia e em países da Ásia. Os dois países também passam a andar juntos no segmento de exploração de petróleo.

A Petrobras assina hoje um acordo com a Oil and Natural Gás Corporation (ONGC) que permitirá a exploração pela estatal brasileira de três blocos de petróleo na Índia. O contrato reforça a estratégia de inserção da Petrobras na Ásia, onde está presente também no Irã e no Paquistão.

Pelo acordo, segundo o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, a companhia indiana também vai explorar um bloco petrolífero da bacia de Campos (RJ), além de outros dois, no Norte e Sul do país.
(Com Agência Estado)

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