quarta-feira, 6 de junho de 2007

O Escudo na Europa é uma declaração de guerra






Pode-se imaginar como os Estados Unidos iriam reagir se a Rússia, a China, o Irã ou qualquer outra potência estrangeira ousasse apenas pensar em colocar um sistema de defesa antimísseis em qualquer região próxima às fronteiras norte-americanas. Isso sem de fato iniciar a levar este plano a cabo. Em tais circunstâncias, praticamente inimagináveis, não apenas haveria, com certeza, uma reação violenta dos Estados Unidos, como esta reação seria também compreensível por razões simples e claras.





É reconhecido por todos que a defesa com mísseis é uma arma de “primeiro golpe”. Reconhecidos analistas militares norte-americanos a descrevem assim: “Não é apenas um escudo, mas uma capacitação para a ação”. Esta arma facilitará a aplicação mais eficiente da potência militar dos Estados Unidos no exterior. “Isolando o país da possibilidade de represálias, o escudo antimísseis garantirá a capacidade e a disposição dos Estados Unidos para modelar o contexto em outras partes do mundo” .”A defesa com mísseis serve para proteger a capacidade dos Estados Unidos em exercer o poder no exterior. Não tem a ver com defesa, é uma arma ofensiva, por isso temos necessidade dela”.





Todas estas explicações vêm de reconhecidas fontes liberais, membros da tendência dominante do poder, que deseja desenvolver esta arma e posicioná-la nos limites externos da área de influência norte-americana no mundo. A lógica é simples e fácil de compreender, um sistema de escudo antimísseis em pleno funcionamento envia uma mensagem aos objetivos em potencial : “Podemos atacar quando quisermos e vocês não poderão contra-atacar, portanto não podem nos impedir”.





Estão vendendo o sistema aos europeus como uma defesa contra os mísseis iranianos. Ainda que os iranianos tenham armas nucleares e mísseis de longo alcance, a probabilidade que os usem para atacar a Europa é inferior à probabilidade de que a Europa recebe o impacto de um asteróide. Portanto, se trata-se realmente de um mecanismo de defesa, a República Checa deveria instalar um sistema para a defesa contra asteróides.





Se o Irã der o mais insignificante sinal de querer fazer algo semelhante, o país se evaporaria. O sistema aponta, de fato, para o Irã, porém, como arma de primeiro golpe. Ele faz parte das crescentes ameaças contra o Irã, que constituem por si mesmas uma grave violação da Carta das Nações Unidas, ainda que isto nunca venha à luz. Quando Mikhail Gorbachov permitiu que a Alemanha tomasse parte de uma aliança militar hostil, aceitou uma grave ameaça à segurança da Rússia, por razões demasiado conhecidas para que voltem a elas agora. Em contrapartida, o governo dos Estados Unidos se comprometeu a não ampliar a OTAN para o leste. Este compromisso foi violado alguns anos mais tarde, o que levantou poucos comentários no Ocidente, mas ampliou o risco de um confronto militar.





O chamado Escudo Antimísseis aumenta o risco de uma guerra. A estratégia consiste em aumentar as ameaças de agressão no Oriente Médio, com conseqüências incalculáveis e o perigo de uma guerra nuclear definitiva.





Há mais de meio século Bertrand Russell e Albert Einstein lançaram um alerta aos povos do mundo a fim de que enfrentem o fato de estamos diante de uma escolha clara, terrível e inevitável: “Teremos de dar um fim à espécie humana? Ou a humanidade está disposta a renunciar à guerra?





Aceitar o chamado Escudo Antimísseis significa a escolha pelo fim da espécie humana em um futuro não muito longínquo.





(*) Noam Chomsky é pensador, escritor e ativista norte-americano. Professor de lingüística na Universidade de Massachussets. Fundador da Gramática Generativa Transformacional, que é um sistema original para abordar a análise lingüística e que revolucionou a lingüística. Autor de "A segunda guerra fria" (1984), "A quinta liberdade" (1988), "O medo e a democracia" (1992), "A Nova Ordem Mundial (e o velho)" (1996).





Tradução de Adalberto Wodianer Marcondes





Envolverde/Rede Voltaire

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